30 de outubro de 2009

Diversidade em atividade: o papel dos fungos em florestas tropicais

Muito pode ser escrito a respeito da importância dos fungos em florestas tropicais. Porém, mesmo para o mais hábil dos narradores, descrever a diversidade de fungos em pleno funcionamento é uma tarefa utópica.

O ideal seria produzir uma série de vídeos como esse abaixo da série Planeta Terra da BBC, sobre as florestas tropicais. Ele foi editado pelo Prof. Toid para enfatizar os fungos. São 10 minutos fascinantes, conduzidos por David Attenborough com legendas em português. Ele ilustra de uma forma maravilhosa muito do que eu consegui transmitir através do programa Globo Ecologia (17/10/09). Excelente complemento.




No vídeo é possível ver várias espécies de fungos em atividade na floresta. A maioria das espécies é saprófita, se alimentando de troncos ou folhas, mas algumas atacam animais, como espécies do gênero Cordyceps que são parasitas de artrópodes, atacando formigas, grilos, aranhas, mariposas e bichos-pau. O vídeo mostra muito bem o crescimento dos corpos de frutificação de várias espécies, como Phallus indusiata e Polyporus tenuiculus, entre outras.

Observação: No início, aparece um "fungo" mixomiceto amarelo que a legenda pode confundir (vale lembrar que os mixomicetos não são fungos verdadeiros). Esse fungo foi legendado como "Ameba", mas o nome indicado é "fungos" mixomicetos (slime moulds em inglês). Esses organismos tem um comportamento amebóide (ameba-like) em uma das etapas do ciclo de vida, mas se comportam de uma maneira semelhante aos fungos, por isso são estudados pelos micólogos também.

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28 de outubro de 2009

Congresso Brasileiro de Zoologia de 2010 (Belém)

Opa! Parece que tem outro congresso com o prazo estourando.

O Congresso Brasileiro de Zoologia de 2010 vai ser em Belém e seu prazo acaba no dia 31 de outubro.



O congresso ocorrerá em fevereiro de 2010. A pesquisadora Ana Lúcia Tourinho (INPA) vai coordenar o simpósio "Integração de inventários e programas de Biodiversidade: bases e estratégias para o conhecimento e conservação da fauna de aracnídeos brasileiros" que vai abordar ações como o PPBio e outros projetos na Amazônia.

Vale a pena conferir a programação do congresso.


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II Congresso internacional de biodiversidade do Escudo Guianês

Está chegando ao fim o prazo de envio de resumos para o encontro sobre a biodiversidade das Guianas em Macapá (AP), que vai acontecer entre 1 e 4 de agosto de 2010 no Campus da Universidade do Estado do Amapá – UEAP. Os resumos devem ser enviados até 31 de outubro (poster ou apresentação oral).

O
II Congresso internacional de biodiversidade do Escudo Guianês tem como objetivo debater os avanços no estudo da biodiversidade do Escudo das Guianas e compartilhar as experiências desenvolvidas na região.

Os temas são abrangentes, cobrindo flora, fauna, ecossistemas, serviços da biodiversidade, impactos e restauração, biologia e gestão da conservação além de propostas comunitárias de conservação e manejo.

Alguns artigos serão indicados para publicação
depois de um processo de seleção.

É possível se inscrever até 15 de dezembro de 2009 (valor da inscrição: US 100,00 para profissionais e US 50,00 para estudantes).

Esse valor inclui livro de resumos, tradução das conferências para o português, o inglês, o espanhol e o francês, refrescos regionais durante o horário do lanche e coquetel de boas vindas.

Maiores informações podem ser obtidas através do email: guianasnaea@gmail.com

Especificações do Resumo
250 palavras com palavras chaves em Word Office, tamanho da letra 12; o título deve ser em letra 14, maiúscula e negrito.


***

Curioso é esse texto que abre o texto do comunicado oficial do comitê organizador do congresso:

"Em Macapá, no estado do Amapá, na região das Guianas e também junto ao rio Amazonas, onde o amapazeiro (Parahacornia amapa) jorra seu látex ou leite branco, que é usado para fins medicinais pelas populações tradicionais desta cidade e estado."


Crédito da imagem da Serra do Aracá: André Nogueira (o Francês).


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22 de outubro de 2009

Etanol em Roraima: Licença prévia para nova usina em Roraima é contestada

Empresa Biocapital obteve do governo estadual licença prévia para se instalar em Bonfim, mesmo com graves falhas no Estudo de Impacto Ambiental. Pelas novas regras do Zoneamento Agroecológico da Cana, região é área proibida para expansão da cultura.

Leia a reportagem de Thaís Brianezi, publicada no Repórter Brasil (19/10/09) e Folha de Boa Vista (20/10/09).


Enviada por Ciro Campos (INPA/RR e Coletivo Ambiental do Lavrado).


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Exposição do MUSA no Jardim Botânico Adolpho Ducke



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20 de outubro de 2009

Evento na Inglaterra vai discutir a conservação de fungos

O evento, "Fungal Conservation: science, infrastructure and politics", que vai ocorrer em Whitby na Inglaterra entre 26 e 30 de outubro de 2009, visa reunir especialistas do mundo todo para discutir a aplicação dos critérios da IUCN (International Union for Conservation of Nature) sobre as espécies de fungos.

Por Ricardo Braga-Neto

Existem produtos científicos relevantes para a conservação de fungos? Qual é a realidade na infra-estrutura de pesquisa em diferentes países? Que estratégias políticas podem ser adotadas para fomentar a conservação de espécies ameaçadas? Essas questões representam profundos desafios para a conservação de fungos tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento e serão discutidas no evento para tentar estimular ações concretas.



O encontro está sendo organizado pela European Mycological Association, Darwin Initiative e IUCN Species Survival Comission. Além de um grupoespecializado em fungos de dentro da IUCN coordenado por Simon Stuart, participarão do evento micólogos de diversos países, inclusive do Brasil, que estão envolvidos com iniciativas relativas à conservação dos fungos em escala nacional e regional. Os participantes vão dividir experiências e buscar delinear algumas estratégias para melhorar a infra-estrutura básica de pesquisa e aumentar a representatividade política de temas relativos à conservação dos fungos.

A importância do Reino Fungi para a manutenção dos processos ecossistêmicos e para o bem estar da humanidade é imensa. No Brasil, não existe nenhuma espécie de fungo considerada ameaçada de extinção simplesmente porque não existe uma lista vermelha de fungos. Essa carência parece ser decorrente do pequeno número de micólogos (cientistas que estudam fungos) no país, já que as listas de fauna e flora dependem da avaliação de um grupo relativamente extenso de especialistas.
Em geral, o conhecimento sobre a diversidade de fungos no planeta está concentrado em países do hemisfério Norte e ainda ébastante escasso nos trópicos, justamente onde ocorre a maior parte dasespécies de fungos. Dessa forma, o desafio é evidente para os países tropicais: como conservar o que ainda não se conhece?

Promissoramente, a situação da micologia brasileira melhorou. Desde o início da década, o aumento do número de micólogos especializados na área de taxonomia vem sendo fundamental para aumentar o ritmo dos estudos, algo que está acontecendo de maneira consistente. O gráfico ao lado mostra um crescimento exponencial na produção de artigos que incluem a descrição de muitas novas espécies. Ele foi derivado de uma compilação da Plataforma Lattes sobre artigos publicados com taxonomia de fungos que incluem pesquisadores brasileiros entre 1970 e 2007. O aumento é oriundo principalmente de publicações de alunos de pós-graduação, muitos dos quais foram contratados recentemente, multiplicando a capacidade de orientar. A tendência é agregar cada vez mais alunos, o que vai gerar um maior volume de dados e uma demanda crescente pela gestão das informações sobre as coleções micológicas presentes nos herbários nacionais.

Demanda nacional: gerar e integrar dados
Além da coordenação dos dados gerados recentemente, uma das principais necessidades brasileiras é revisar e informatizar as informações sobre as coleções de fungos presentes nos herbários, utilizando uma plataforma comum para organizar os dados e permitir o acesso online. Isso vai permitir a avaliação da distribuição geográfica das espécies, uma informação básica necessária para realizar as avaliações de ameaça de extinção segundo os critérios da IUCN.

Algumas iniciativas em andamento no Brasil podem contribuir na geração e gestão dessas informações, servindo de exemplo na discussão sobre a integração dos dados. O Herbário Virtual da Flora e dos Fungos do Brasil (INCT Herbário Virtual), coordenado pela Dra. Leonor Costa Maia (UFPE), está desenvolvendo atividades nesse sentido, utilizando o programa Brahms (Botanical Research and Herbarium Management System) como plataforma base. A proposta do INCT é fornecer “à sociedade em geral, e ao poder público e comunidade científica em especial, infra-estrutura de dados de qualidade de acesso público e aberto integrando as informações das coleções científicas de plantas e fungos do país e repatriando dados sobre coletas realizadas em solo brasileiro, depositadas em acervos no exterior”.

Para maiores informações sobre o encontro "Fungal Conservation: science, infrastructure and politics" visite o site do evento.


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15 de outubro de 2009

Globo Ecologia sobre fungos da Amazônia

No próximo sábado (17/10/09) vai ao ar um episódio histórico do programa Globo Ecologia, pois é a primeira vez, em quase 20 anos de existência, que se fala sobre os fungos.
 
Por Ricardo Braga-Neto
 
É compreensível que o conhecimento sobre fungos seja escasso em florestas tropicais, pois a diversidade de fungos é imensa e existem poucos micólogos (pesquisadores de estudam fungos) envolvidos com taxonomia. Contudo, o recente crescimento no número de micólogos em várias regiões do Brasil vai contribuir para reduzir essa lacuna no conhecimento. O que falta para melhorar é aumentar a integração entre eles e incluir cada vez mais os fungos em pautas acadêmicas e jornalísticas.
 
Além das atividades de pesquisa cotidianas, é preciso atuar para levar o conhecimento gerado para a sociedade, mostrando a beleza e a importância dos fungos. Em 2009, tive a chance de realizar um programa Globo Repórter sobre fungos comestíveis (a convite da Dra. Noemia Ishikawa do Inpa) e em seguida um programa Globo Universidade.
 
Dessa vez, convidado pela produtora Celma Padilha, tive a oportunidade de abordar os fungos em um episódio inteiro do programa Globo Ecologia, mostrando um pouco da ecologia e diversidade desse grupo tão interessante e pouco conhecido no Brasil.
 

O pesquisador Ricardo Braga-Neto com a equipe do Globo Ecologia na escadaria da sede da Reserva Ducke (AM)
 
O programa conta com uma entrevista com o Dr. Philip Fearnside (Inpa) comentando a importância dos fungos para a manutenção dos serviços florestais na Amazônia. Ao longo do programa, tentei abordar diversos assuntos, abrangendo um pouco sobre importância ecológica dos fungos, grupos funcionais (p.ex. decompositores de madeira, decompositores de serrapilheira, fungos micorrízicos, saprófitos de solo, etc.), alguns fungos comestíveis e um pouco sobre evolução. Espero que todos gostem.
 

O Dr. Philip Fearnside, em entrevista com a repórter Priscila Geha Steffen, enfatizou a importância dos fungos para as florestas tropicais
 
O programa vai ao ar pela Rede Globo, Futura e Globo News. 
 
Rede Globo 
Sábado, 17/10 às 6h50 (horário de Brasília). 
 
Globo News 
Sábado, 17/10 às 10h05. 
 
Canal Futura 
Sábado, 17/10 às 15h30. 
Domingo, 18/10 às 17h. 
Terça, 20/10 à 1h. 
Quarta, 21/10 à meia noite e às 16h. 
Quinta, 22/10 às 22h. 
Sexta, 23/10 às 4h45.
 
Clique aqui para ver o album de fotos sobre o making off do programa. 
 
Agradecimentos 
Gostaria de agradecer especialmente a Celma Padilha e sua maravilhosa equipe - Priscila Geha Steffen, Antônio Gurgel e Thiago Medina - e a Flávia Pezzini e Maria Alice Neves que fizeram comentários importantes sobre a idéia inicial do roteiro. 
 
Crédito das imagens 
Flávia Pezzini 
Thiago Medina
 
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11 de outubro de 2009

O Eco: Cidade x Floresta, por Bernardo Camara

Achei esta notícia [O Eco, Cidade x Floresta 07/10/09] bastante pertinente para descrever os processos que estamos vivenciando em nossa cidade, com a fumaça resultante de espaços verdes queimados, sejam a floresta ou áreas de capoeiras. Ela dá uma bela mostra de como o poder público, seja ele executivo, legislativo, e ate judiciário, vêm contribuindo para a manutenção deste modelo funesto de expansão urbana aqui em Manaus. As conseqüências, todos nós estamos compartilhando com o próprio ar que respiramos. 
 
Reportagem enviada por Rita Mesquita.
 
Fonte: [O Eco, 07/10/09]

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5 de outubro de 2009

Como escrever de trás pra frente

Segue uma tradução livre de um artigo de William Magnusson (INPA) sobre como escrever textos científicos. 
 
***

Como escrever de trás pra frente
 
Lertzman (1995) apresentou muitas sugestões úteis para escrever artigos e teses. Muitas dessas aparentemente estão relacionadas com a forma, mas escritores experientes perceberão que a maioria está intimamente relacionada com a função.  O artigo sintetizou muitas idéias interessantes que podem ser encontradas em livros sobre como escrever textos científicos, e como tais podem ser mais acessíveis para escritores iniciantes. Entretanto, em uma década ensinando comunicação científica, eu percebi que até mesmo cinco páginas de texto, com uma dúzia de sugestões gramaticais, são demais para um escritor inexperiente tentando colocar no papel seu primeiro manuscrito, especialmente se Inglês não for sua língua materna. Se o escritor for capaz de captar bem o conteúdo é relativamente fácil corrigir o manuscrito em relação ao estilo, usando textos como o de Lertzman, ou indicar  falhas no caso de um escritor experiente.

As seguintes regras tem ajudado muitos escritores inexperientes a começar a escrever, assim como ajudaram muitos escritores experientes, como eu mesmo, a sair de um desesperado emaranhado de observações e inferências.

Regra 1: Escreva as conclusões do seu artigo. Mesmo artigos extensos ou capítulos de teses não possuem mais que cinco ou seis conclusões substanciais. Cada conclusão deve ser sucinta e ocupar apenas uma sentença e menos de duas linhas. As conclusões escritas aqui não farão parte da versão final do trabalho, de modo que elas não precisam de expressões como "contudo" e "que é".

Regra 2: Escreva somente os resultados necessários para fazer as conclusões que você apresentou.

Regra 3: Escreva somente os métodos necessários para entender como os resultados foram obtidos.
 
Regra 4: Escreva a discussão, que deveria apresentar somente informações adicionais (com base na literatura) que modificam, estendem, confirmam ou contradizem as conclusões baseadas nos seus resultados.

Regra 5: Escreva a introdução, a qual deve ter somente informações necessárias para apresentar as questões para as quais as conclusões são as respostas.

Quando você tiver isso pronto, a estória está contada. Você pode ir mais a fundo para corrigir erros de estilo, como os indicados por Lertzman (1995). Se o seu orientador principal quiser que você inclua outras coisas, como revisões da literatura sobre espécies ou ecossistemas, especulações não baseadas nos seus resultados, etc., coloque-as em capítulos, seções ou apêndices à parte. Depois de defender a tese, essas poderão ser descartadas e o resto submetido para publicação. Este processo é direto, o estudante aprende a escrever uma tese e publicar ao mesmo tempo. Isto evita ter que desaprender todas as técnicas adquiridas durante a preparação da tese, de modo que é possível aprender a ser um pesquisador e a publicar.

Agradecimentos 
Eu agradeço todos meus estudantes que, quando tudo mais deu errado, adotaram essas regras e fizeram suas teses coerentes.

William E. Magnusson
Coordenação de Pesquisas em Ecologia
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Manaus, AM - Brasil


Fonte: [Magnusson, W.E. (1996). How to write backwards. Bulletin of the Ecological Society of America vol 77(2):88.]


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