21 de abril de 2010

Sobre a persistência em longo prazo de mamíferos de médio e grande porte em fragmentos florestais na Amazônia brasileira


Prezados colegas,

É com grande satisfação com que venho compartilhar com vocês algumas informações que estão publicadas (on-line) na revista Biodiversity and Conservation, sobre minha dissertação de mestrado em Ecologia no INPA (2007). Trata-se de um trabalho que estudou a persistência de espécies de mamíferos de médio e grande porte nos fragmentos florestais de Alter-do-Chão, assim com em outras duas paisagens adjacentes com diferentes proporções de cobertura florestal remanescente, incluindo a Flona Tapajós (600 mil ha), na região oeste do Estado do Pará, próximo a cidade de Santarém.

Mapa da região oeste do estado do Pará. As áreas em cinza representam a cobertura florestal remanescente, baseado nos dados do PRODES até 2006 (www.obt.inpe.br/prodes). Os círculos em branco indicam os sítios amostrados em L1 – parte da Floresta Nacional do Tapajós; L2 – Comunidades do Eixo Forte; L3 – Fragmentos florestais de Alter-do-Chão.

Este artigo traz informações interessantes do ponto de vista conservacionista, pois a pressão de desmatamento naquela região, que está sob influência da BR-163 (Santarém-Cuiabá), é crescente. Nós observamos que a cobertura florestal teve papel chave na persistência de espécies nas três paisagens, contudo populações de espécies de maior porte foram reduzidas e/ou localmente extintas pela caça mesmo nas paisagens com maior proporção de cobertura florestal. Várias espécies caçadas e não caçadas por moradores locais persistiram nos fragmentos florestais (70% da biota regional), embora se eles fossem considerados de forma isolada, provavelmente não suportariam populações viáveis de boa parte desta biota regional.

O cenário apresentado neste artigo pode ser interpretado com uma condição futura para paisagens na Amazônia e até mesmo nos trópicos úmidos. Grandes áreas protegidas são críticas para conservar a biota tropical, mas sozinhas estas áreas podem não ser suficientes para a conservação de todas as espécies e o futuro das mesmas é dependente do uso da terra em paisagens dominadas por humanos. Até mesmo pequenos hábitats fragmentados retêm considerável valor de conservação em longo prazo, desde que manejados em um contexto onde se assegure e/ou aumente a conectividade entre hábitats.

Medidas legais, como o cumprimento do código florestal, devem assegurar que a conectividade estrutural seja eficiente para possibilitar a dispersão de indivíduos (sistema fonte-sumidouro). Esta perspectiva aliada a implementação de planos de manejo para as espécies caçadas localmente e usos mais sustentáveis da terra, podem de forma efetiva contribuir para a persistência da diversidade florestal nas paisagens tropicais cada vez mais alteradas pela ação do homem.

Mas esse caminho, entretanto, não parece ser seguido pela nossa atual governança, que prefere hidrelétricas, rodovias e alterações do código florestal para que o Brasil e a Amazônia possam se desenvolver, de uma forma que eles ainda insistem em chamar de "sustentável".

Segue o link do artigo...

http://www.springerlink.com/content/f43317701686r26w/

Abraço a todos e obrigado pela atenção!

Ricardo Sampaio


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13 de abril de 2010

Novo site do Projeto Igarapés

Projeto atualiza banco de publicações disponíveis e amplia a funcionalidade do portal
Por Helder Espírito-Santo

Faz tempo que não posto nada aqui, mas desta vez vim para vender. Não, não estou de mudança! Vim aqui pra vender meu peixe, quer dizer, nosso peixe! E não só peixe, temos também sapos, libélulas, tricópteras, e tudo que se pode encontrar dentro de um igarapé amazônico (ou em suas margens!). Vim aqui divulgar o novo site do Projeto Igarapés.

O portal passou por uma geral e já está no ar, com todas as suas funcionalidades ativas. Agora com lista de publicações atualizada (com pdfs prontamente disponíveis para grande parte delas); calendário de atividades e eventos; e uma seção com sugestões de artigos e notícias atuais sobre ecologia de igarapés (e de riachos em geral).

História

Para quem não conhece, o Projeto Ygarapés (inicialmente com "Y") nasceu de fato em 2001, idealizado por alguns pesquisadores ligados ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF/INPA), especialmente Jansen Zuanon (INPA), Paulo De Marco Jr. (UFG), Dadão (WCS/UFAM), Marcelo Gordo (UFAM) e Jorge Nessimian (UFRJ), que viam uma lacuna no conhecimento sobre os efeitos das mudanças da cobertura do solo sobre a fauna aquática ou associada. Na verdade, há boatos que eles queriam mesmo era arrumar uma desculpa pra se encontrar. Eu sei lá! O fato é que o Igarapés (agora com "I") cresceu, ampliou sua linha de pesquisa e hoje apresenta resultados consistentes de estudos que vão desde taxonomia, história natural e ecologia, a avaliações de efeito de fragmentação, urbanização ou manejo florestal sobre a fauna associada aos pequenos corpos d'água da Amazônia. Ao longo destes anos, foram várias monografias, dissertações, teses e artigos científicos produzidos dentro do escopo do Projeto. E isto vem crescendo a cada dia.

Saiba mais, explore os métodos utilizados, áreas de atuação, galeria de imagens, informações sobre os integrantes do Projeto e mais. Basta acessar www.igarapes.bio.br.


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7 de abril de 2010

Revistas de alto impacto adotam novas políticas de arquivamento de dados

Estudos científicos geram grande quantidade de dados passíveis de aplicação no futuro. Entretanto, a maioria dos trabalhos apresenta os resultados de forma sintética, inviabilizando a utilização por outros pesquisadores.


A questão de compartilhamento de dados tem sido muito discutida, embora ainda seja um assunto polêmico, principalmente na área da ecologia. Recentemente, dois periódicos científicos de alto impacto dedicaram-se a esse tema, reforçando a abrangência e atualidade do assunto (Nature - volume 461 e Biotropica - volume 41, ambas em 2009). Em 2010, periódicos de grande fator de impacto, como American Naturalist, Evolution, Journal of Evolutionary Biology, Molecular Ecology e Heredity, estão publicando em seus editoriais uma nova política para arquivamento de dados. De uma forma geral, a política assume como condição para a publicação que os dados utilizados no artigo sejam armazenados em arquivos públicos adequados, como GenBank, TreeBASE, Dryade, NCEAS, Knowledge Network for Biocomplexity, na forma de material complementar on-line associado ou em outro repositório de longo termo público e estável. É uma ótima alternativa para garantir a longevidade dos dados.

No Brasil, isso vem acontecendo desde 2004 com o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O programa PPBio disponibiliza em seu portal (http://ppbio.inpa.gov.br) um banco de dados dos levantamentos biológicos realizados nos sítios de coleta do PPBio e parceiros, além de dados de coleções biológicas. Cada conjunto de dados sempre está acompanhado pelos seus respectivos metadados, que são explicações detalhadas sobre como os dados foram coletados, onde, por quem e quando. De acordo com a política de dados do PPBio, os metadados devem estar disponíveis no site após 30 dias da viagem à campo e o conjunto de dados após 1 ano. Atualmente mais de 160 metadados e 110 conjuntos de dados estão disponíveis no site. No PPBio os metadados estão disponíveis no padrão EML (Ecological Metadata Language), desenvolvido pelo Knowledge Network for Biocomplexity (KNB), uma das redes indicadas na nova política para arquivamento de dados. O PPBio planeja adotar o sistema desenvolvido pelo KNB para aprimorar a disponibilização de seus dados: o servidor Metacat e o editor Morpho. Ambos são utilizados por diversas redes de pesquisas em todo o mundo, dentre elas o PELD internacional (LTER), o National Center for Ecological Analysis and Synthesis (NCEAS), Ecological Society of America (ESA), o Tropical Ecosystem Assessment and Monitoring (TEAM) e Conservation International (CI). Esse sistema também será utilizado para unificar o banco de dados do PELD Brasil.



Imagens obtidas em Nature: 461 (7261), 2010.



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