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29 de março de 2012

PPBio e CENBAM lançam Sapoteca virtual

A SAPOTECA visa uma representação integrada de diferentes tipos de mídia (notas bibliográficas, gravações sonoras, fotografias, vídeos) de um determinado conjunto de dados, os sapos da Amazônia.


No website você encontrará uma amostra da biblioteca, sendo que cada espécie estará representada pelo fragmento de uma gravação de aúdio e/ou vídeo.
Este projeto é parte do Centro para Estudos Integrados da Amazônia "CENBAM" cujo principal objetivo é integrar a pesquisa sobre a biodiversidade amazônica em cadeias de produção científicas e tecnológicas eficientes.
Esta coleção on-line visa não somente o interesse de pesquisadores, mas também prover uma ferramenta para professores, satisfazer a curiosidade de amantes da herpetologia e do público em geral sobre a comunicação acústica dos anuros amazônicos.

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7 de março de 2012

Vídeos sobre monitoramento de grupos-alvo PPBio já estão disponíveis

(Fonte: http://ppbio.inpa.gov.br/Port/videosppbio)

A equipe PPBio produziu vídeos com a intenção de auxiliar pesquisadores e gestores ambientais nas técnicas de amostragem e monitoramento de grupos-alvo. Estes alvos foram selecionados tendo como base as metas a serem monitoradas pelas agências ambientais dentro de programas de pesquisas em UCs, acompanhamento de atividades de concessão madeireira, acompanhamento das atividades de implementação e funcionamento de obras de infra-estrutura e outras que prevêem o monitoramento da biodiversidade.

Inicialmente foram selecionados 5 grupos alvo para levantamento e monitoramento em módulos e grades RAPELD: samambaias, árvores comerciais, sapos, peixes e primatas. Espera-se que a longo prazo, sejam feitos levantamentos de todos os grupos em todos os sítios RAPELD, no entanto isto não é um objetivo viável a curto prazo.

Já estão disponíveis os vídeos: Árvores Comerciais, Samambaias, Sapos, Primatas.

Os vídeos foram narrados por Fernanda Coelho (Árvores Comerciais), Flávia Costa (Samambaias), Pedro Ivo Simões (Sapos), Fabio Rohe e Adriane Morais (Primatas), todos produzidos por William Magnusson.

Os vídeos podem ser vistos através do nosso canal no You Tube http://www.youtube.com/user/PPBioINPA e também podem ser baixados no site PPBio (links abaixo). Os arquivos disponíveis podem ser utilizados para qualquer fim, desde que sejam citados os créditos originais.





Assista no YouTube: Sapos diurnos - Parte 1




Assista no YouTube: Sapos diurnos - Parte 2




Assista no YouTube: Sapos diurnos - Parte 3






Assista no YouTube: Primatas - Parte 1




Assista no YouTube: Primatas - Parte 2







Assista no YouTube: Árvores Comerciais - Parte 1




Assista no YouTube: Árvores Comerciais - Parte 2






Assista no YouTube: Samambaias - Parte 1




Assista no YouTube: Samambaias - Parte 2



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4 de agosto de 2010

Franciscanos do século XXI

Por João Vitor Campos e Silva

Ei biólogo, quanto vale vosso serviço? Uma pergunta difícil não? E, no entanto, não deveria ser!

Deveríamos ter na ponta da língua a importância e o valor de nossas atribuições. Tanto o valor econômico quanto o valor técnico, já que se trata de uma profissão propulsora da ciência e que se tornou fundamental para o desenvolvimento desse País!

Acontece que o problema vem de longe e nas curvas do tempo enraizou-se. O polivalente naturalista Alexander Von Humboldt, por exemplo, descobridor de tantas espécies, responsável pela confecção de dezenas de mapas das florestas e rios sul-americanos, ganhador de centenas de prêmios acadêmicos, considerado um dos maiores cientistas pela Sociedade Real inglesa e aclamado por acadêmicos alemães deveria ser bem pago para executar suas fabulosas expedições não é verdade?

Pois saibam que o que financiou sua mega viagem pela América Latina foi a estrondosa herança que recebeu por ser filho de um aristocrata! Assim foi também com Charles Darwin que, provavelmente, só conseguiu sistematizar sua revolucionária teoria por ser membro da burguesia! Isso jamais arranharia sua genialidade, mas nos faz compreender um pouco a situação do biólogo contemporâneo. Somos os sucessores desses antigos devotos da natureza que estruturaram grande parte do conhecimento científico, muitas vezes, à custa de suas fortunas particulares!

Mas e os que não possuíam as estrondosas heranças? Ora... passavam as mesmas dificuldades que passamos hoje enquanto bolsistas! Vejamos o caso de Alfred Russel Wallace. O biólogo britânico passou por ácidos momentos em sua carreira, dependendo as vezes da venda de insetos que coletava para garantir o sagrado pão do dia a dia (se fosse hoje seria preso por biopirataria!).

Em pleno século XXI o cenário é outro obviamente, mas no âmago da situação observamos particularidades muito semelhantes. O curso de Ciências biológicas ainda é um curso bastante elitista onde grande parte dos alunos recebe uma forte ajuda familiar para finalizar os estudos. E os que não possuem uma família abastada, sobrevivem não vendendo insetos, mas se virando!

Lembro-me que quando fazia parte do Centro Acadêmico organizava diversos eventos onde expoentes da Academia brasileira eram convidados para palestrar. Na esmagadora maioria das ocasiões os palestrantes cobravam apenas a passagem e a estadia. Quando indagados sobre essa nobre benevolência, eles disparavam: “Não recebo nada mas posso conhecer lugares e pessoas diferentes”. Ora ora ora... Quantos advogados, engenheiros, médicos ou administradores estão por aí palestrando de graça? Realmente não faz parte de nossa formação o pensamento mercadológico, sequer conseguimos valorar nossas atividades. Frente ao mercado andamos como antigos franciscanos subsistindo com nossa valiosa informação acerca do mundo.

Isso é ruim? Depende!

É muito louvável um conjunto de valores que questionam o atual modelo de desenvolvimento, de consumo e até de felicidade. Mas se quisermos enfrentar o mercado, temos que nos preparar para isso. Os alicerces com essa gama de valores que acreditamos ser essencial para um mundo melhor devem ser mantidos, mas devemos nos munir com algumas “armas” do mundo capitalista também. A questão não é de entrar no jogo sujo do dinheiro, mas sim de luta por uma qualidade de vida melhor!

Devemos investir na divulgação do que somos capazes, na Universidade temos que trabalhar por disciplinas que nos abram a visão para o mercado. A academia deve romper a barreira do preconceito e da prepotência e protagonizar um diálogo com o setor empresarial e governamental. Em todos os setores existem pessoas boas sonhando com um mundo mais justo e mais agradável. Devemos unir forças, já que muitas vezes nossos objetivos têm a mesma diretriz.

O biólogo será mais valorizado quando os muros das universidades e instituições de pesquisas forem transpostos para que a sociedade, em geral, possa reconhecer a importância e a nobreza dessa profissão. Podemos começar assumindo o compromisso de publicar nossas teses e dissertações não apenas em revistas científicas especializadas, mas também em outros veículos de informação populares, para que a dona de casa, o pedreiro ou o gari, também tenham acesso aos nossos mirabolantes resultados.

Tempos atrás me deparei com uma questão que me deixou abismado com nossa classe. Um conhecido me confessou que estava feliz da vida, pois estava bem financeiramente a custa de consultorias, eis que num determinado momento da conversa o segredo de sua ascensão financeira foi revelado: “o negócio é juntar os biólogos e pechinchar... muitos deles trabalham quase de graça, aí o grosso da grana vem pro meu bolso!” Pasmem pessoal!!!! Ele também é um biólogo! Essa falta de cooperação e auto-desvalorização endossa o caldo da amargura enfrentada pelos colegas de profissão desvalorizados. Devemos ser fortes ao negar pseudo-salários provenientes de consultorias sujas! Não devemos aceitar com apatia um salário de 400 reais! Alguns professores de biologia ganham isso!

Realmente se quisermos ver nossa profissão valorizada, devemos, primeiramente, valorizar o profissional que há dentro de nós!



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26 de maio de 2010

A Gatiara: um exemplo da falta de conhecimento sobre a Biodiversidade Amazônica

O conhecimento sobre a biodiversidade nas florestas tropicais ainda é relativamente baixo e até mesmo nos grupos mais estudados, como os mamíferos, grande lacunas no conhecimento básico sobre as espécies são comuns. Na floresta amazônica isso é bem evidente, sendo comum que expedições científicas a lugares pouco ou nunca estudados revelem registros novos para espécies conhecidas ou ainda revelem táxons novos para a ciência.

Animais conhecidos mundialmente pelo nome de olingos (gênero Bassaricyon; figura 1) estão entre os mais desconhecidos mamíferos neotropicais, embora tenham sido descritos pela ciência há mais de 100 anos. Estes animais pertencem à ordem Carnivora e à família Procionidae, a qual inclui os coatis, guaxinins e juparás. Os olingos são solitários, arborícolas e noturnos e, embora sejam dessa ordem, alimentam-se quase que exclusivamente de frutos e néctar. Bassaricyon alleni é uma espécie de olingo que ocorre no oeste da Amazônia, relacionado às áreas mais produtivas deste bioma, onde quase nada se conhece sobre sua história natural e praticamente era desconhecido em território brasileiro.

Figura 1Bassaricyon gabbii fotografado na Reserva Biológica Bosque Nuboso Monteverde, Costa Rica (março de 2007) por John Lowes.

Entretanto, um recente estudo publicado on-line na revista Mammalia (Sampaio et al., 2010), baseado em registros e espécimes coletados de nove localidades, mostrou uma impressionante ampliação da distribuição geográfica desta espécie em mais de 1000 km na Amazônia Brasileira (figura 2). Estes pesquisadores determinaram que sua distribuição agora se limita ao sul do Rio Amazonas e a oeste do Rio Madeira. Contudo, eles não descartam a hipótese de que esta espécie possa ocorrer a leste do Madeira e que populações independentes ainda possam ser reveladas para este táxon, conforme mais estudos forem realizados.

Figura 2 – Mapa mostrando a distribuição geográfica de Bassaricyon alleni no norte da América do Sul. A área em verde-escuro indica a prévia distribuição geográfica para a espécie, enquanto que a área verde-claro indica a sua “nova” potencial área de ocorrência na Amazônia Brasileira. As estrelas indicam os locais estudados (Sampaio et al., 2010).

Estes pesquisadores indicaram que a distribuição geográfica desta espécie está muito mais relacionada à falta de dados da espécie do que à produtividade das florestas amazônicas, como previamente se acreditava. É sabido que seu hábito arborícola e noturno contribui para aumentar a dificuldade em seu estudo, mas, além disso, podem ser confundidos por moradores locais, e mesmo por pesquisadores, com outros mamíferos de porte e hábito semelhantes, como macacos-da-noite (Aotus spp.) e juparás (Potos flavus), o que pode levar os olingos a serem negligenciados em levantamentos biológicos.

Bassaricyon alleni pode ser reconhecido pelo nome de gatiara, macaco-janauí/janauaí/januí ou miru-miru por moradores locais da Amazônia Brasileira. As maiores ameaças para a conservação desta espécie relacionam-se à perda de habitat. Esta ameaça pode ser mais presente justamente nas áreas a leste de sua "nova" distribuição geográfica (interflúvio madeira-purus), onde a cobertura florestal poderá ser drasticamente reduzida em um futuro próximo, influenciada pela reconstrução da BR-319 (Manaus-Porto Velho) e construção de duas hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio) no Rio Madeira.


Segue a referência do artigo.

Sampaio R, Munari D, Röhe F, Ravetta, AL, Rubim, P, Farias, IP, da Silva, MNF e Cohn-Haft, M (2010). New distribution limits of Bassaricyon alleni Thomas 1880 and insights on an overlooked species in the Western Brazilian Amazon. Mammalia. DOI 10.1515/MAMM.2010.008

Para obter o artigo entre em contato com o autor correspondente – rcosampaio@gmail.com



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25 de maio de 2010

Gato-maracajá simula chamadas de Sauim-de-coleira para atrair suas presas

Gato-maracajá (Leopardus wiedii), fonte - wikipedia

Mesmo se passarem anos no campo, os pesquisadores raramente testemunham a predação de primatas. Os gatos, aves e outros caçadores regularmente se alimentam de espécies de primatas, mas o que sabemos sobre os hábitos dos caçadores de primatas frequentemente vem a partir de ossos e unhas encontradas nas fezes do predador. De vez em quando, porém, alguém está no lugar certo e na hora certa para observar uma tentativa do predador de pegar um primata para o jantar e uma observação recente na Amazônia revelou uma técnica engenhosa de caça empregada por um pequeno gato malhado.

Embora seja conhecido pela ciência por quase 200 anos, o gato-maracajá (Leopardus wiedii) ainda é um dos mais enigmáticos gatos do mundo. Ele passa a maior parte de sua vida nas árvores das florestas tropicais da América Central e do Sul, e, como acontece com muitas espécies arbóreas, ela se tornou especialmente difícil de seguir e estudar. Conforme relatado por Ellen Wang, com base em 20 amostras fecais, sabemos que grande parte da sua dieta é composta de pequenos roedores, mas como os gatos efetivamente caçam estes animais no topo das árvores é amplamente desconhecido.

Para descobrir, os pesquisadores Fabiano de Oliveira
Calleia, Fabio Rohe e Marcelo Gordo entrevistaram pessoas que tinham vivido na floresta por toda a sua vida sobre como os gatos-maracajá caçam. Curiosamente, uma observação comum era que os gatos imitam as chamadas de suas presas para atraí-las. Pumas, leopardos e onças-pintadas têm sido observadas utilizando essas técnicas e em 2005 os pesquisadores foram capazes de confirmar os relatos.

Ao fazer observações de campo na Reserva Florestal Adolpho Ducke, os pesquisadores avistaram um grupo de oito sauins-de-coleira (Saguinus bicolor), que havia se estabelecido em uma figueira para se alimentar. Havia um gato-maracajá por perto, mas ao invés de investir contra o grupo de primatas, o gato fez chamadas imitando os filhotes de sauim. O macaco que estava de vigia não sabia o que fazer diante dessa situação. Ela subia e descia da árvore, numa tentativa de descobrir o que estava acontecendo, fazendo chamadas para alertar os outros sauins que algo suspeito se passava. Depois de alguns minutos, as chamadas estranhas pararam, mas cerca de dez minutos depois, os quatro macacos
restantes foram para longe deste ponto de alimentação. O gato-maracajá foi vindo em direção a eles através de uma liana ligada à árvore de alimentação, mas já não havia chance de ele pegar um dos macacos.

Mesmo
tendo falhado a tentativa de predação, os pesquisadores sugeriram que a imitação pode ser uma estratégia eficaz dos gatos para a caça. Imitando as chamadas de sauins eles podem chamar indivíduos para perto em uma posição melhor para o ataque. Sabendo que um número de presas usam vocalizações imitáveis para demarcar território, um macaco ou outra presa que pensa que está vindo para afastar um concorrente, pode, ao invés disso, ficar cara a cara com um gato-maracajá.

Veja o artigo na íntegra :: de Oliveira Calleia, F., Rohe, F., & Gordo, M. (2009). Hunting Strategy of the Margay to Attract the Wild Pied Tamarin. Neotropical Primates, 16(1):32-34 DOI: 10.1896/044.016.0107

***

Tradução livre do post :: Margays mimick monkey calls to lure their prey (Brian Switek) :: Laelaps - Science blogs (http://scienceblogs.com).


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21 de abril de 2010

Sobre a persistência em longo prazo de mamíferos de médio e grande porte em fragmentos florestais na Amazônia brasileira


Prezados colegas,

É com grande satisfação com que venho compartilhar com vocês algumas informações que estão publicadas (on-line) na revista Biodiversity and Conservation, sobre minha dissertação de mestrado em Ecologia no INPA (2007). Trata-se de um trabalho que estudou a persistência de espécies de mamíferos de médio e grande porte nos fragmentos florestais de Alter-do-Chão, assim com em outras duas paisagens adjacentes com diferentes proporções de cobertura florestal remanescente, incluindo a Flona Tapajós (600 mil ha), na região oeste do Estado do Pará, próximo a cidade de Santarém.

Mapa da região oeste do estado do Pará. As áreas em cinza representam a cobertura florestal remanescente, baseado nos dados do PRODES até 2006 (www.obt.inpe.br/prodes). Os círculos em branco indicam os sítios amostrados em L1 – parte da Floresta Nacional do Tapajós; L2 – Comunidades do Eixo Forte; L3 – Fragmentos florestais de Alter-do-Chão.

Este artigo traz informações interessantes do ponto de vista conservacionista, pois a pressão de desmatamento naquela região, que está sob influência da BR-163 (Santarém-Cuiabá), é crescente. Nós observamos que a cobertura florestal teve papel chave na persistência de espécies nas três paisagens, contudo populações de espécies de maior porte foram reduzidas e/ou localmente extintas pela caça mesmo nas paisagens com maior proporção de cobertura florestal. Várias espécies caçadas e não caçadas por moradores locais persistiram nos fragmentos florestais (70% da biota regional), embora se eles fossem considerados de forma isolada, provavelmente não suportariam populações viáveis de boa parte desta biota regional.

O cenário apresentado neste artigo pode ser interpretado com uma condição futura para paisagens na Amazônia e até mesmo nos trópicos úmidos. Grandes áreas protegidas são críticas para conservar a biota tropical, mas sozinhas estas áreas podem não ser suficientes para a conservação de todas as espécies e o futuro das mesmas é dependente do uso da terra em paisagens dominadas por humanos. Até mesmo pequenos hábitats fragmentados retêm considerável valor de conservação em longo prazo, desde que manejados em um contexto onde se assegure e/ou aumente a conectividade entre hábitats.

Medidas legais, como o cumprimento do código florestal, devem assegurar que a conectividade estrutural seja eficiente para possibilitar a dispersão de indivíduos (sistema fonte-sumidouro). Esta perspectiva aliada a implementação de planos de manejo para as espécies caçadas localmente e usos mais sustentáveis da terra, podem de forma efetiva contribuir para a persistência da diversidade florestal nas paisagens tropicais cada vez mais alteradas pela ação do homem.

Mas esse caminho, entretanto, não parece ser seguido pela nossa atual governança, que prefere hidrelétricas, rodovias e alterações do código florestal para que o Brasil e a Amazônia possam se desenvolver, de uma forma que eles ainda insistem em chamar de "sustentável".

Segue o link do artigo...

http://www.springerlink.com/content/f43317701686r26w/

Abraço a todos e obrigado pela atenção!

Ricardo Sampaio


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7 de abril de 2010

Revistas de alto impacto adotam novas políticas de arquivamento de dados

Estudos científicos geram grande quantidade de dados passíveis de aplicação no futuro. Entretanto, a maioria dos trabalhos apresenta os resultados de forma sintética, inviabilizando a utilização por outros pesquisadores.


A questão de compartilhamento de dados tem sido muito discutida, embora ainda seja um assunto polêmico, principalmente na área da ecologia. Recentemente, dois periódicos científicos de alto impacto dedicaram-se a esse tema, reforçando a abrangência e atualidade do assunto (Nature - volume 461 e Biotropica - volume 41, ambas em 2009). Em 2010, periódicos de grande fator de impacto, como American Naturalist, Evolution, Journal of Evolutionary Biology, Molecular Ecology e Heredity, estão publicando em seus editoriais uma nova política para arquivamento de dados. De uma forma geral, a política assume como condição para a publicação que os dados utilizados no artigo sejam armazenados em arquivos públicos adequados, como GenBank, TreeBASE, Dryade, NCEAS, Knowledge Network for Biocomplexity, na forma de material complementar on-line associado ou em outro repositório de longo termo público e estável. É uma ótima alternativa para garantir a longevidade dos dados.

No Brasil, isso vem acontecendo desde 2004 com o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O programa PPBio disponibiliza em seu portal (http://ppbio.inpa.gov.br) um banco de dados dos levantamentos biológicos realizados nos sítios de coleta do PPBio e parceiros, além de dados de coleções biológicas. Cada conjunto de dados sempre está acompanhado pelos seus respectivos metadados, que são explicações detalhadas sobre como os dados foram coletados, onde, por quem e quando. De acordo com a política de dados do PPBio, os metadados devem estar disponíveis no site após 30 dias da viagem à campo e o conjunto de dados após 1 ano. Atualmente mais de 160 metadados e 110 conjuntos de dados estão disponíveis no site. No PPBio os metadados estão disponíveis no padrão EML (Ecological Metadata Language), desenvolvido pelo Knowledge Network for Biocomplexity (KNB), uma das redes indicadas na nova política para arquivamento de dados. O PPBio planeja adotar o sistema desenvolvido pelo KNB para aprimorar a disponibilização de seus dados: o servidor Metacat e o editor Morpho. Ambos são utilizados por diversas redes de pesquisas em todo o mundo, dentre elas o PELD internacional (LTER), o National Center for Ecological Analysis and Synthesis (NCEAS), Ecological Society of America (ESA), o Tropical Ecosystem Assessment and Monitoring (TEAM) e Conservation International (CI). Esse sistema também será utilizado para unificar o banco de dados do PELD Brasil.



Imagens obtidas em Nature: 461 (7261), 2010.



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18 de fevereiro de 2010

Álbum das Zingiberales Neotropicais

As florestas neotropicais abrigam uma diversidade enorme de espécies vegetais. No entanto, temos pouco conhecimento sobre esta diversidade e faltam-nos ainda informações básicas sobre quem são e onde estão as espécies.

Calathea hopkinsii; colector: Costa, F.; site: PDBFF (AM); photo: Flávia Costa.

Nos últimos anos têm crescido o número de pesquisadores interessados em estudos taxonômicos, ecológicos e evolutivos de Zingiberales nas florestas neotropicais. A integridade das características das estruturas reprodutivas das espécies (cor, forma e tamanho) é essencial para identificação correta das espécies de Zingiberales. No entanto, essas características são perdidas após a secagem do material florístico coletado. Desta forma estamos criando um álbum de fotos online das espécies de Zingiberales com o objetivo de auxiliar no progresso dos estudos com grupo. Você está sendo convidado a ver e comentar as fotos já postadas no site, e a incluir suas fotos, caso queira integrar este esforço. Para ver as fotos, acesse a página http://picasaweb.google.com.br/neotropical.zingiberales e faça seus comentários.

Informações adicionais, como o local georreferenciado, tipo de ambiente e nome do autor da foto e informações sobre o indivíduo coletado, quando disponíveis (p.ex. altura) também irão constar na etiqueta de cada arquivo. Portanto, cada pesquisador poderá acessar e baixar livremente as fotos e principalmente deixar comentários a respeito das espécies. É necessário ter uma conta no gmail para deixar os comentários, caso você não possua nos informe que lhe forneceremos o login e senha de acesso. Os especialistas também poderão demonstrar interesse e solicitar o envio das exsicatas para análise mais detalhada do material. Para anexar uma foto ao álbum, envie-nos o arquivo para este email (neotropical.zingiberales@gmail.com), com as seguintes informações (latitude/longitude, tipo de ambiente, autor da foto).

Esperamos com esta iniciativa facilitar e fortalecer a comunicação entre os pesquisadores e especialistas do grupo espalhados pelo globo e contribuir para o avanço do conhecimento das espécies vegetais das florestas neotropicais.

Junte-se a nós!

Costus guanaiensis; colector: Costa, F.; site: Estação Ecológica de Maracá (RR); photo: Flávia Costa.


Crédito da imagem da Calathea sp. (roxa): Iracema Moll.


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4 de janeiro de 2010

Implicações da falta de relação entre características ambientais e a decomposição de madeira na Amazônia Central

A maioria dos estudos sobre a decomposição de madeira nos trópicos se limitou em analisar os efeitos da qualidade do substrato sobre a decomposição. Contudo, a influência de características ambientais sobre esse processo ainda foi pouco estudada, embora possam contribuir para o entendimento da variabilidade espacial das emissões de carbono pelas florestas tropicais.

Por José Júlio de Toledo

Na Amazônia Central, pequenas variações das características do solo e topografia foram associadas a diferenças nas taxas de decomposição da liteira fina (folhas, frutos e galhos ≤ 2,5 cm de diâmetro) e na ciclagem de nutrientes (Luizão et al. 2004, 2007). Essas variações de solo e topografia podem contribuir para aumentar a variação espacial do processo de decomposição independentemente de características intrínsecas da madeira, sendo uma fonte adicional de variabilidade nas estimativas de perda de carbono da floresta.

Pesquisadores estão interessados em determinar se a floresta amazônica está atuando como um sumidouro de carbono. Um ecossistema pode ser considerado como um sumidouro quando o ganho de carbono através da fotossíntese supera as perdas por respiração. Devido ao cenário de mudanças climáticas causado pelas atividades antrópicas emissoras de gases de efeito estufa, a identificação dos sumidouros tornou-se crucial para a compreensão e manutenção do balanço global do carbono. A identificação de um sumidouro de carbono requer estudos que determinem a quantidade de carbono absorvido e a quantidade de carbono emitido. O carbono absorvido é determinado através do crescimento da floresta, e as perdas são determinadas principalmente através da mortalidade das árvores. Subtraindo a quantidade absorvida pela perdida é possível definir se a floresta está atuando como um sumidouro ou fonte de carbono para a atmosfera.

As estimativas de ganho e perda são baseadas em dados de biomassa, que são convertidos para carbono, pois quase 50 % do peso seco de uma árvore é carbono. No entanto, quando uma árvore morre, todo carbono da madeira não é liberado prontamente para a atmosfera. A velocidade com que esse carbono é liberado dependerá da taxa de decomposição do material. Existem espécies de árvores cuja madeira se decompõe em taxas muito rápidas (ex. Cecropia) e outras que perduram várias décadas na floresta depois de mortas (ex. Manilkara, Minquartia). Estimativas precisas da quantidade de carbono que é liberado para a atmosfera, portanto, dependem de dados da taxa de decomposição da madeira, através da qual é possível determinar quanto do carbono contido na biomassa morta está sendo liberado para atmosfera ao longo do tempo.

Na Reserva Florestal Adolpho Ducke montamos um experimento para determinar se características ambientais influenciam a decomposição de madeira. Nós utilizamos madeira de quatro espécies de árvores que variam em densidade na seguinte ordem: Manilkara huberi (Maçaranduba) > Couratari guianensis (Tauari) > Hura crepitans (Assacú) > Parkia pendula (Arareira). Em 72 parcelas permanentes nós depositamos uma amostra de madeira (~ 5 x 3 x 2,5 cm) de cada espécie no ano de 2007. Um ano depois, recolhemos as amostras, ou o que restou delas, e determinamos a perda de peso seco, que foi atribuída ao processo de decomposição desempenhado pelos fungos, insetos e outros invertebrados da floresta (maiores detalhes em Toledo et al. 2009).

Amostras de madeira recém depositadas (A) e depois de um ano na floresta (B).

As parcelas na Reserva Ducke abrangem uma grande diversidade de ambientes que apresentam variações na estrutura e fertilidade do solo e topografia. Essas diferenças ambientais podem contribuir para variação do processo de decomposição ao longo da paisagem. As seguintes características ambientais medidas nas parcelas foram relacionadas com a decomposição de madeira: textura; e nutrientes no solo; biomassa arbórea; quantidade de liteira fina; altitude; e inclinação do terreno. Utilizamos a técnica conhecida como regressão múltipla para relacionarmos a percentagem de peso perdido das amostras com características ambientais. Mas, como as características ambientais descritas aqui poderiam influenciar a decomposição de madeira?

As hipóteses foram que a decomposição de madeira seria mais rápida em solos argilosos e locais com maior biomassa devido à manutenção de umidade e temperatura constantes que favoreceriam a atividade de decompositores; solos argilosos têm maior capacidade de retenção de água que os arenosos e, maior biomassa geralmente impede a penetração de grande quantidade de luz. A decomposição também seria mais rápida sobre solos mais férteis porque maior proporção de nutrientes permaneceria disponível para os decompositores iniciarem o processo de decomposição. No entanto, esperava-se que o processo de decomposição fosse mais lento em locais com maior inclinação devido à baixa umidade e fertilidade do solo nessas áreas. Também, esperava-se maior lentidão no processo de decomposição em locais com maior quantidade de liteira fina sobre o solo, um indicativo de baixa atividade de decompositores.

Os resultados foram inesperados. As características ambientais não foram relacionadas com o processo de decomposição (
Toledo et al. 2009). Provavelmente as hipóteses foram mal formuladas ou a metodologia utilizada foi falha. As opções seriam publicar somente uma nota (como sugerido) ou submeter o trabalho ao Journal of Negative Results (http://www.jnr-eeb.org/index.php/jnr). Embora muitos tenham aversão a resultados não significativos, pois geralmente têm de deixar sua hipótese alternativa de lado, a falta de relação entre as variáveis ambientais estudadas e a decomposição é uma informação importante sobre o ecossistema. A falta de relação entre a decomposição de madeira e as características ambientais indicou que pode haver uma assimetria entre a produtividade de liteira grossa (galhos e troncos > 2,5 cm de diâmetro) e a ciclagem de carbono e nutrientes na área. A produção de liteira grossa aparentemente segue um padrão inverso ao da acumulação de biomassa arbórea, pois maior mortalidade de árvores ocorre nos baixios com solos arenosos (Toledo, 2009) ao passo que maior quantidade de biomassa é encontrada nos platôs com solos argilosos (Castilho et al. 2006). Assim, áreas de baixios podem acumular maior quantidade de liteira grossa que platôs, pois o processo de decomposição de madeira não está relacionado com solos e topografia. No entanto, como a liteira não se acumula indefinidamente, as taxas de decomposição podem se igualar às taxas de produção em longo prazo. Contudo, taxas iniciais de decomposição afetam a quantidade de carbono estocado na biomassa morta. Se as condições climáticas mudarem rapidamente, como é esperado em vários modelos climáticos (ex. Marengo et al. 2008, 2009), a produção pode estar desbalanceada com o processo de decomposição em algum período. As características do solo e topografia explicam cerca de 30 % da variação da biomassa arbórea sobre o solo na Reserva Ducke (Castilho et al. 2006). Baseados nessa relação simples acreditamos inicialmente que a decomposição de madeira pudesse seguir padrões similares, permitindo uma modelagem relativamente simples do fluxo de carbono. Entretanto, os fatores que afetam a decomposição de madeira parecem ser mais complexos do que o esperado, e nossos resultados indicam que dados de solo e topografia contribuirão muito pouco na previsão da variação da decomposição de madeira em áreas similares à Reserva Ducke.

***

Texto baseado no artigo
Toledo, J. J., Magnusson, W. E., Castilho, C. V., 2009. Influence of soil, topography and substrates on differences in wood decomposition between one-hectare plots in lowland tropical moist forest in Central Amazonia. Journal of Tropical Ecology, 25: 649-656.

Referências Complementares
Castilho, C. V., Magnusson, W. E., Araújo, R. N. O., Luizão, R. C. C., Luizão, F. J., Lima, A. P., Higuchi, N., 2006. Variation in aboveground tree live biomass in a Central Amazonian forest: Effects of soil and topography. Forest Ecology and Management 234, 85-96.

Luizão, R. C. C., Luizão, F. J., Paiva, R. Q., Monteiro, T. F., Sousa, L. S., Kruijt, B., 2004. Variation of carbon and nitrogen cycling processes along a topographic gradient in a Central Amazonian forest. Global Change Biology 10, 592-600.

Luizão, R. C. C., Luizão, F. J., Proctor, J., 2007. Fine root growth and nutrient release in decomposing leaf litter in three contrasting vegetation types in Central Amazonia. Plant Ecology 192, 225-236.

Marengo, J. A., Jones, R., Alves, L. M., Valverde, M. C., 2009. Future change of temperature and precipitation extremes in South America as derived from the PRECIS regional climate modeling system. International Journal of Climatology 29, Early View (Online).

Marengo, J. A., Nobre, C. A., Tomasella, J., Oyama, M. D., De Oliveira, G. S., De Oliveira, R., Camargo, H., Alves, L. M., Brown, I. F., 2008. The drought of Amazonia in 2005. Journal of Climate 21, 495-516.

Toledo, J. J., 2009. Influência do solo e topografia sobre a mortalidade de árvores e decomposição de madeira em uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Manaus, 75 p.

Veja mais no site do PPBio Amazônia Ocidental
http://ppbio.inpa.gov.br/Port


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11 de dezembro de 2009

Impune até quando?

Essa é uma história de invasão de terra, desmatamento ilegal, destruição de patrimônio e ameaça de morte. Não é sobre a irmã Dorothy e não passa no Pará. Passa aqui perto, no município de Iranduba, onde tenho um sítio, com uma vista linda do rio Negro. Na verdade, o sítio é meu e de três sócios, também colegas de trabalho. Compramos há uns doze anos, principalmente porque continha uma área muito bonita de floresta primária. Nos dedicamos a proteger a floresta lá, mas não adiantou.

Por Mario Cohn-Haft

Na noite da sexta-feira passada, a casa do sítio queimou até o chão. Foi incendiada propositalmente por uns quatro homens que chegaram se perguntando em voz alta, “A gente mata ele ou só bota fogo na casa?” Foi isso que o caseiro ouviu por volta das 22 horas, logo antes de fugir pelos fundos. Ele só não estava dormindo naquele horário porque tinha recebido mais cedo um recado através de um parente dele: “Saia da casa se quiser continuar vivo”. Quando não tinha mais jeito, acabou seguindo o conselho.


Assim, então, foi a etapa mais recente do conflito que se acirrou ao longo dos últimos meses. Aqui em Manaus estamos acostumados, calejados até, a ouvir falar sobre a invasão de terras, principalmente de mata virgem. Sabemos, inclusive, que é o método preferido de expansão urbana, pois é barato e certeiro. Aproveita da imagem de gente pobre sem terra, acontece rapidamente e depois não tem como recuperar a floresta perdida, e oferece a candidatos políticos popularidade em anos eleitorais através da legalização retroativa. É uma indústria, tacitamente aceita e até encorajada por governos locais—já faz parte do planejamento do desenvolvimento.

No caso do nosso sítio, o terreno vizinho, também coberto por floresta primária, parece pertencer a um ex-prefeito da região. Esse, segundo fontes locais, teria prometido loteá-lo em centenas de terrenos menores. Apesar de disputas sobre a verdadeira posse dessa propriedade, colocou-se um administrador chamado “Pingelão”, um cara temido pelo povo local, para tocar a distribuição e ocupação do loteamento, denominado “Residencial Portelinha”. A partir daí começou o desmatamento e, eventualmente, a invasão e o desmatamento de grandes partes do nosso sítio.

Mas antes disso, já houve conflitos. A principal indústria no município de Iranduba são as olarias—fábricas de tijolos e telhas de barro. É uma indústria de exploração de recursos naturais: o barro que compõe o solo da região é cavado, preparado, e assado em fornos a lenha, também extraída das matas ao redor. Na ausência de um sistema de plantio de espécies próprias para lenha, o desmatamento resultante já afetou a região quase toda, nossa área sendo uma das poucas ainda a ter mata alta e bonita. Foi justamente isso que nos atraiu para o local, onde já foi catalogada uma biodiversidade maravilhosa, inclusive espécies de sapo e macaco novas para a ciência. Sempre tivemos que proteger o terreno contra a extração ocasional de madeira.

Naturalmente, a chegada do asfalto e da luz elétrica ao ramal de acesso, há vários anos, aumentaram a pressão em cima da florestinha. E também trouxeram facilidades, inclusive para a nossa capacidade de vigiar. Mas no último ano, talvez devido ao começo da construção da ponte sobre o rio Negro e a perspectiva do outro lado do rio se tornar uma continuação da área urbana de Manaus, acelerou notavelmente a venda e invasão de terras por lá.

O loteamento da Portelinha, que parece não ter nenhum tipo de autorização ambiental, já desmatou sua área toda e começou a invadir o nosso terreno, derrubando floresta primária e pondo fogo. Tivemos que iniciar uma série de denúncias em todas as instâncias possíveis, que até hoje não resultaram em nenhuma resposta legal. Enquanto isso, tivemos que remarcar repetidamente os limites de nossa propriedade e que remover construções feitas dentro dela. O incêndio da nossa casa parece ser uma resposta direta e pessoal à nossa insistência em manter o que é nosso.

A casa não fica perto da área invadida, não há outra ocupação ou desmatamento próximo, e o fogo não originou em outro local. No meio de uma área isolada e particular, uma casa queimou até o chão em poucas horas. Não tenha dúvida de que foi proposital. Foi anunciado. E também foi ameaçado e debatido assassinar o caseiro.

Incêndio doloso é crime sério. Mas desmatar, invadir terra particular e ameaçar vida humana também são. Quando começará a haver investigação, condenação e punição? Quem executa o crime já é criminoso. Quem está por trás é bandido. Enquanto estes elementos são tolerados agindo em prol do desenvolvimento regional, onde está a tal “governança” que nos foi garantida para mudar o curso da história para um desenvolvimento ecológico e sustentável? Se não há controle no quintal da capital, devemos acreditar na governança nos mega-projetos do interior? Essa é a Manaus, o Amazonas, social e ambientalmente corretos que estamos correndo para mostrar ao mundo em 2014?

07 dezembro 2009

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11 de novembro de 2009

Turfeiras da Amazônia: um dreno desconhecido de carbono atmosférico e uma fonte em potencial

Por Outi Lähteenoja (adaptado de Lähteenoja et al. 2009)

Em ecossistemas de águas paradas e falta de oxigênio, as folhas e troncos de árvores que caem no chão não decompõem completamente, devido à ação apenas parcial microbiota decompositora. Consequentemente, uma parte da vegetação parcialmente decomposta fica acumulada sobre o solo formando um material chamado turfa. Uma vez que as plantas contêm carbono atmosférico obtido pelo processo de fotossíntese, o acúmulo de turfa reduz o efeito estufa e, a longo prazo, o aquecimento global, e, portanto, é benéfica ao meio ambiente.


A maioria das turfeiras do mundo está localizada em regiões de clima frio, cobertas por florestas temperadas, boreais ou tundras, mas nas últimas décadas, importantes áreas de turfeiras foram descobertas em florestas tropicais do sudeste da Ásia. Estas turfeiras podem ter até 20 metros de profundidade e acumulam turfa em taxas muito altas. Portanto, as turfeiras asiáticas são importantes reservas e drenos de carbono atmosférico (Page et al. 2004). É supreendente que as turfeiras da maior área de floresta tropical do mundo – a Amazônia – sejam praticamente desconhecidas e inexploradas (Schulman et al. 1999).


Em estudo feito por mim junto a colegas das Universidades de Helsinki, Turku e Iquitos (Universidad Nacional de la Amazonía Peruana), exploramos 17 áreas encharcadas na floresta Amazônica Peruana, em Loreto (perto de Iquitos). O objetivo foi determinar se os ecossistemas de águas paradas na Amazônia também são áreas de acúmulo de turfa. A resposta é sim, pois em 16 dos 17 sítios estudados, encontramos um importante acúmulo de turfa, em um dos sítios, essa camada atingiu quase 6 metros de profundidade. Nossos resultados, apresentados na tabela abaixo, mostraram, pela primeira vez, que a formação de turfa é muito comum na Amazônia.


Área de estudo

Profundidade média (em cm) da camada de turfa (mín. e máx entre parênteses)

Taxa média de acumulação de turfa (mm/ano)

Taxa média de acumulação de carbono (g m-2/ano)

Aucayo

5 (0-70)



Buena Vista

210 (0-300)

2.50±0.10


Charo

140 (0-210)

2.56±0.12


Chino

0 (0-30)



Ex Petroleros

110 (50-170)



Fundo Junior

260 (140-420)



Itaya 1

10 (0-30)



Itaya 2

0 (0)



Itaya 3

0 (0-20)



Pebas

55 (40-70)



Primavera

55 (10-150)



Quistococha

245 (0-490)

1.69±0.03

74±15

Riñón

370 (300-390)

2.32±0.12

39±10

San Jorge

250 (0-590)

1.92±0.05

85±30

San Nicolas

145 (0-270)



Santa Rosa

110 (10-150)



Tarapoto

145 (100-180)




Dados extraídos de Lähteenoja et al. (2009).


Um segundo passo foi medir a taxa de acumulação de carbono na camada de turfa destas áreas encharcadas. Com isso, pudemos estimar quanto carbono é removido da atmosfera durante o lento processo de desenvolvimento de uma turfeira. Isso foi possível através da datação do radiocarbono, que é feita com base na proporção entre o C12 e C14. Em nosso estudo, encontramos altas de taxas anuais de acumulação: de 0,94 a 4,88 mm de turfa e 26 a 195 g de carbono.


Porém, a existência de turfeiras é totalmente dependente da presença de água parada e, em condições de seca, tais turfeiras podem se tornar uma fonte de carbono para a atmosfera e contribuir para o aceleramento do aquecimento global e do efeito estufa. Isso aconteceu, por exemplo, em 1997, quando após um período de seca e fogos sucessivos, turfeiras na Indonésia emitiram entre 0,81 e 2,57 gigatoneladas de carbono para a atmosfera, o equivalente a 13 a 40 % da emissão anual mundial proveniente de combustíveis fósseis (Page et al. 2002).


Ainda que as turfeiras da Amazônia estejam relativamente bem conservadas e, portanto, não representem atualmente uma fonte de emissão de carbono, tais sistemas representam um importante dreno e estoque de carbono atmosférico. Segundo a estimativa feita por Schulman e colaboradores (1999), a Amazônia possui 150.000 km2 de turfeiras, uma área de escala semelhante à ocupada por turfeiras na Indonésia. Semelhante também são os diversos fatores que ameaçam a integridade dos ecossistemas amazônicos e indonésios – como, por exemplo, períodos de seca prolongados no futuro.


Considerando-se os atuais impactos da ação humana na Amazônia, aliados à experiência do que ocorreu na Indonésia, fica clara a urgente necessidade de se conservar estes ecossistemas pouco conhecidos.


Esse texto está baseado na seguinte publicação:


Lähteenoja, O, Ruokolainen K, Schulman L, Oinonen M (2009) Amazonian peatlands: an ignored C sink and potential source. Global Change Biology 2009, 15:2311–2320.


Outros trabalhos citados:


Page SE, Siegert F, Rieley JO, Boehm HDV, Jaya A, Limin S (2002) The amount of carbon released from peat and forest fires in Indonesia during 1997. Nature, 420, 61-65.


Page SE, Wüst RAJ, Weiss D, Rieley JO, Shotyk W, Limin SH (2004) A record of Late Pleistocene and Holocene carbon accumulation and climate change from an equatorial peat bog (Kalimantan, Indonesia): implications for past, present and future carbon dynamics. Journal of Quaternary Science, 19, 625-635.


Schulman L, Ruokolainen K, Tuomisto H (1999) Parameters for global ecosystem models. Nature, 399, 535-536.


Agradeço a Gabriela Zuquim pelo incentivo e pela tradução ao português.



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