3 de setembro de 2009

Problemas com a detecção de plantas hemiparasitas e epífitas


Ervas-de-passarinho, orquídeas, bromélias, e liquens são plantas difíceis de encontrar, mesmo quando as procuramos. Quando comecei meu estudo de doutorado com as ervas-de-passarinho da família Loranthaceae em 2006, notei que teria um sério problema caso não pudesse detectar com perfeição as sementes e plantas aderidas aos galhos dos hospedeiros. O problema torna-se ainda maior quando queremos calcular probabilidades de transição, em que o status de ocupação de uma unidade amostral no ano seguinte depende de seu status no ano anterior. 

Ainda em 2006, resolvi coletar os dados de ocupação dos hospedeiros pelas ervas-de-passarinho em parceria com um ajudante de campo, ambos fazendo observações ao mesmo hospedeiro para reduzir a chance de cometer falhas na detecção. No início de 2007, participei de um workshop intitulado “Análise e manejo de populações animais”, organizado por Gonçalo Ferraz (INPA) e Jerry Penha (UFMT), e ministrado por James Nichols, James Hines e Kenneth Williams, do Patuxent Wildlife Research Center. Apesar de direcionado para os animais, este curso ensinou técnicas com um grande potencial de aplicação no manejo e conservação de populações de plantas com dificuldades de detecção. 

Uma das técnicas baseou-se em amostragens repetidas às mesmas unidades amostrais com o intuito de estimar a ocupação levando em conta a probabilidade de detecção dos organismos. Na verdade, a técnica é apenas um pano de fundo para testar hipóteses ecológicas, que podem ser acessadas através da inclusão de covariáveis em um modelo que contempla tanto a probabilidade de detecção quanto a probabilidade de ocupação. Entretanto, àquela altura, meu objetivo específico era chamar a atenção dos ecólogos que estudam epífitas sobre a importância de utilizar vários observadores para estudos de larga escala espacial e com amostragens repetidas ao longo dos anos. 
 
Em 2008, dois ajudantes e eu amostramos independentemente cerca de 100 hospedeiros em cinco áreas de savana próximas à vila de Alter do Chão, no Pará. Procurávamos por sementes e infecções de uma espécie de erva-de-passarinho do gênero Psittacanthus, que é localmente especializada pelo cajueiro. Após a amostragem, nós tomamos duas medidas que foram utilizadas como covariáveis de detecção: (1) tamanho do hospedeiro e (2) proximidade com outros hospedeiros infectados (0 ou 1). As minhas hipóteses eram: (1) tanto a detecção de sementes de ervas-de-passarinho quanto de infecções estabelecidas seria negativamente afetada pelo tamanho do hospedeiro devido à dificuldade em encontrá-las em hospedeiros maiores; (2) a detecção de sementes e infecções de ervas-de-passarinho seria positivamente afetada pela proximidade com hospedeiros infectados, o que ocorre como um efeito indireto do acúmulo de sementes e infecções próximo a esses hospedeiros.


Sementes de Psittacanthus plagiophyllus (ca. 1 cm) em galho de árvore logo após serem dispersas

Os resultados mostraram que a detecção das sementes da erva-de-passarinho reduziu de 90% em hospedeiros com 2 m de diâmetro de copa para cerca de 50% em hospedeiros com 12 m de diâmetro de copa, mas os intervalos de confiança para as estimativas de detecção foram muito grandes. Para hospedeiros com e sem vizinho próximo, a detecção reduziu 21% em média, e os intervalos de confiança não sobrepuseram. Os resultados não produziram o esperado para as ervas-de-passarinho já estabelecidas, mas a detecção não foi perfeita, ou seja, quando pelo menos um observador encontrava uma erva-de-passarinho, nem sempre os demais também a encontravam.


A conclusão é de que devemos dar atenção aos problemas de detecção de plantas hemiparasitas e epífitas em estudos ecológicos, especialmente quando procuramos por unidades que possuem tamanho muito menor que o tamanho do hospedeiro. Existem cerca de 25.000 espécies de epífitas (incluindo hemiparasitas) em todo o mundo, muitas das quais apresentam estádios de desenvolvimento pouco conspícuos, baixa abundância ou hospedeiros tão volumosos que dificultam sua detecção. Esta técnica já havia sido aplicada para plantas terrestres, mas nunca antes para epífitas. Os interessados em aprender a técnica deveriam ler Mackenzie et al. 2006 para uma introdução sobre o tema, e adquirir os softwares Presence e Mark, que são distribuídos gratuitamente. 

Mackenzie, D.I., Nichols, J.D., Royle, A.J., Pollock, K.H., Bailey, L.L., Hines, J.E. 2006. Occupancy estimation and modeling. Elsevier, San Diego.



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