Para onde estão direcionados os esforços na Amazônia brasileira?
14 de fevereiro de 2009
As florestas da Amazônia funcionam como fontes ou drenos de carbono?
Para onde estão direcionados os esforços na Amazônia brasileira?
Ainda não se sabe porque as florestas amazônicas estão aumentando em biomassa, mas é certo que esse processo têm grandes implicações econômicas, via regulação dos mecanismos de REDD (Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação), que serão discutidos na COP15 em Copenhagem em dezembro de 2009. É possível que a absorção de carbono pelas florestas da Amazônia esteja associada a respostas a distúrbios históricos decorrentes do último período glacial ou ao aumento recente da concentração de CO2 na atmosfera. Porém, a abrangência e efetividade da absorção de CO2 pelas florestas só serão confirmadas através do acúmulo de informações obtidas em parcelas permanentes, com grande cobertura geográfica.
Felizmente, dois programas de pesquisa vinculados ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), são determinantes desse iminente progresso: o PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade) e o LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia). O primeiro é responsável pela replicação do sistema usado na Reserva Ducke em diversos sítios da Amazônia - atualmente já existem medidas do estoque de carbono pelo menos para a Reserva Biológica do Uatumã (AM), Parque Nacional do Viruá (RR) e Estação Ecológica de Maracá (RR) e atividades complementares estão em andamento em outros locais da região amazônica no Pará, Amapá, Acre e Rondônia. O segundo programa do MCT estuda o funcionamento climatológico, biogeoquímico e hidrológico da Amazônia, sendo responsável também por estudos sobre o impacto das mudanças do uso da terra em escala regional e global. A integração entre os resultados desses dois programas promete revolucionar o que sabemos sobre o funcionamento das florestas amazônicas. O mais difícil vai ser transformar esse conhecimento científico em políticas públicas, mas é certo que ele poderá ser um diferencial nas negociações da remuneração pelos serviços ambientais prestados pela maior área contínua de floresta tropical do planeta.
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Saci
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7 comentários:
Valeu pela comentário/post Saci. Ótimo complemento. Só gostaria de adicionar mais uma coisa.
Como trabalho com ambientes aquáticos, posso afirmar que estudos que levam em consideração somente a area terrestres tentem a ser incompletos. Boa parte da biomassa vegetal não é degradada no ambiente terrestre. Esta é lixiviada para os ecossistemas aquáticos, onde é efetivamente respirada.
Desta forma, o balanço de carbono de um ambiente complexo como a amazônia tem que levar e consideração toda a matéria orgânica que supostamente estaria fixada no ambiente terrestre mas foi lixiviada para os ambientes aquáticos (pois como não foi respirada neste ambiente, não foi contabilizada neste balanço de carbono).
O breno escreveu um post sobre o trabalho do pessoal do LBA. O resultado é produção líquida negativa. E muito negativa.
http://discutindoecologia.blogspot.com/2009/01/importancia-dos-ambientes-aquaticos-no.html
Abraços e aguardo por futuras discussões no science blogs brasil :)
Realmente existe um transporte de matéria orgânica de ambientes terrestres para os rios na Amazônia, e para compreendermos o balanço de carbono nas florestas temos que quantificar melhor esse êxodo de nutrientes e a decomposição em ambientes aquáticos.
Como a maior parte dos solos amazônicos é pobre em nutrientes, as florestas apresentam uma série de adaptações (como rede de raízes superficiais e reciclagem direta através de fungos ectomicorrízicos) que minimizam essas perdas.
Em ambientes aquáticos, a complexidade aumenta pela mobilidade e pela decomposição de matéria orgânica poder gerar mais metano, um dos piores gases estufa, e não somente CO2.
Além disso, a taxa de decomposição pode variar entre os ambientes e dificultar os cálculos do balanço de CO2.
Se liberação de carbono associada com a decomposição em ambientes aquáticos for mais lenta que o balanço de CO2 em ambientes terrestres (aparentemente positivo), isso criaria um atraso na liberação de CO2 nos rios, levando a uma dificuldade de entender o saldo em ambientes terrestres.
Minha percepção é que as florestas não podem simplesmente exportar nutrientes ao infinito, pois os solos fortemente lixiviados já não permitem esse luxo.
Pense na floresta e nos ambientes aquáticos da Amazônia como um continuum. Um ambiente tão fortemente ligado a pulsos de inundação e seca não pode ser analisado de forma separada.
Não é só pela lixiviação que a matéria orgânica pode chegar ao ambiente aquático. Neste tipo de áreas alagáveis o ambiente aquático "vai" até a floresta. É claro que nem toda a amazônia é potencialmente uma área alagável, mas com certeza esta área é muito significativa.
Conceitualmente os ambientes aquáticos em geral e, mais ainda, os lagos e lagoas, formam a porção final da bacia de drenagem. Recebem toda a carga de nutrientes, carbono e materiais advindos de todo o sistema terrestre. Cada vez mais tem sido levantado na literatura o papel do material alóctone (de fora do ambiente aquático) para a teia trófica deste ambiente. Quanto mais estudamos ecossistemas tropicais, mais damos importância a heterogeneidade espacial e a importância das interfaces entre o ambiente terrestre e aquático.
Variando ou não a taxa de decomposição aeróbica e anaeróbica em ambientes aquáticos, padrões podem ser levantados. Levantamentos mundiais já foram feitos e mostram que a maior parte dos ecossistemas aquáticos do mundo é heterotrófico, exportando mais carbono do que fixa. É claro que todo este carbono não é autóctone.
De certa forma os ambientes aquáticos nos últimos anos foram vistos como "vilões", por emitirem muito CO2 e metano. Mas sabemos que a produção primária e secundária autóctone não sustentaria toda essa taxa de respiração. Grande parte da "culpa" dos ambientes aquáticos deve-se aos ambientes terrestres, mais especificamente as florestas. Parte deste carbono se acumula no sedimentos de lagos por milhares de anos, mas grande parte é rapidamente respirada, por bactérias e archeas sedentas por substrato.
Por muitos anos os ambientes aquáticos e terrestres foram encarados como caixas. Separados, sem conexão. A superexposição da ciência climáticos nos mostra que efeitos em escala local podem ter consequências globais.
O Rio amazonas, que já tem uma grande influência no próprio ecossistema amazônico, pode exportar nutrientes e matéria orgânica por extensões absurdas, chegando a influenciar a costa leste de grande parte da América do Sul. Fenômenos deste tipo mostram que muitas vezes a escala em que estamos fazendo uma análise pode nos trazer diferentes conclusões de uma determinada situação.
Concordo com suas observações sobre a conexão entre os ambientes e também com a questão da escala espacial.
Mas considerando o conhecimento fragmentado sobre a estequiometria do carbono entre florestas de terra-firme e florestas alagadas na Amazônia, acho prematura a colocação conclusiva do Breno no post A importância dos ambientes aquáticos no ciclo do carbono amazônico.
Conforme mais dados estiverem disponíveis, teremos mais subsídios para quantificar o transporte de carbono dos ambientes terrestres para os aquáticos e, assim, mais segurança para avaliar o balanço de carbono nas florestas de terra-firme, que com certeza ocupam a maior parte da bacia amazônica.
Bem, estamos vamos para o ambiente aquático. Concordo plenamente com o comentário do Breno e não acho prematuro de forma alguma. Ele não citou no post, mas o conhecimento sobre a passagem de carbono do ambiente terrestre para o aquático está longe de ser "fragmentada" na literatura, até para a Amazônia. Eu trabalho com lagoas costeiras, mas é só procurar um pouco que achamos bastante coisa para a Amazônia.
Um dos principais nomes desta área na amazônia é o Prof. Alex Krusche, do CENA-USP. Ele publicou um artigo na nature com outros autores especificamente sobre este tema. Você pode dar uma olhada aqui.
http://www.nature.com/nature/journal/v436/n7050/abs/nature03880.html
Ele não só descreve a "estequiometria do carbono", que na verdade é a relação da concentração de carbono relativa a outros nutrientes como faz uma coisa bem mais profunda e interessante. Ele mostra que a idade do carbono que é respirado nos rios (através de análise isotópica)é em grande parte de carbono novo, proveniente do ambiente terrestre. Além disso ele faz um bom levantamente da literatura sobre o tema.
Lembro que o trabalho é de 2005. Ele já faz um levantamento da literatura anterior, o que mostra que o conhecimento não é tão recente.
Estive na paletras do Prof. Krusche no Congresso de Ecologia do Brasil em 2007, onde ele divulgou, além deste resultado, outros dados bem interessantes. Você pode ler o resumo da palestra aqui.
http://www.seb-ecologia.org.br/viiiceb/palestrantes/alex.pdf
Um artigo geral, mas muito interessante foi um publicado no ano passado discutindo a importancia de lagos e rios como indicadores de alterações no ambiente terrestre. Ele foi publicado na Frontiers in Ecology and the Environment, do mesmo grupo da Ecology.
http://www.esajournals.org/doi/abs/10.1890/070140
Sendo assim, reforço novamente a importância de entendermos o ciclo do carbono em ambientes aquáticos em ecossistemas como a Amazônia. A análise somente do ecossistema terrestre pode ser tendenciosa em relação ao fluxo de carbono do ecossitema como um todo, principalmente na sua importância global.
Caro Saci,
O meu post sobre "A importância dos ambientes aquáticos no ciclo do carbono amazônico" nada tem sobre estequiometria (para melhor entendimento recomendo o livro Ecological Stoichiometry, do Prof. Sterner). O post diz exclusivamente sobre o balanço de carbono entre ambientes aquáticos e terrestre, além de como se dá o transporte deste carbono terrestre para o ambiente aquático.
Sobre a sua colocação de conhecimento fragmento sobre este assunto, sugiro que leia os trabalhos de Prof. Jonathan J. Cole, ele é um especialista no assunto. Ele publica trabalhos sobre o assunto em renomadas revistas desde o ínicio da década de noventa.
Abraços e parabéns pelo blog.
Luiz e Breno, não tive a intenção de ser indelicado.
Concordo com vocês que a integração entre os sistemas terrestre e aquático é imprescindível para entender o ciclo do carbono e suas nuances complexas na escala continental da Amazônia.
A perspectiva mais frutífera desse nosso diálogo de hoje reside exatamente nele. A discussão que tivemos foi bastante estimulante. Acho que só com integração teremos condições de superar nossas limitações individuais e caminhar juntos na direção da geração e divulgação de conhecimento científico aplicável à melhoria da nossa qualidade de vida enquanto cidadãos do mundo.
Obrigado pela oportunidade e até já.
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