O evento, "Fungal Conservation: science, infrastructure and politics", que vai ocorrer em Whitby na Inglaterra entre 26 e 30 de outubro de 2009, visa reunir especialistas do mundo todo para discutir a aplicação dos critérios da IUCN (International Union for Conservation of Nature) sobre as espécies de fungos.
Por Ricardo Braga-Neto
Existem produtos científicos relevantes para a conservação de fungos? Qual é a realidade na infra-estrutura de pesquisa em diferentes países? Que estratégias políticas podem ser adotadas para fomentar a conservação de espécies ameaçadas? Essas questões representam profundos desafios para a conservação de fungos tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento e serão discutidas no evento para tentar estimular ações concretas.
O encontro está sendo organizado pela European Mycological Association, Darwin Initiative e IUCN Species Survival Comission. Além de um grupoespecializado em fungos de dentro da IUCN coordenado por Simon Stuart, participarão do evento micólogos de diversos países, inclusive do Brasil, que estão envolvidos com iniciativas relativas à conservação dos fungos em escala nacional e regional. Os participantes vão dividir experiências e buscar delinear algumas estratégias para melhorar a infra-estrutura básica de pesquisa e aumentar a representatividade política de temas relativos à conservação dos fungos.
A importância do Reino Fungi para a manutenção dos processos ecossistêmicos e para o bem estar da humanidade é imensa. No Brasil, não existe nenhuma espécie de fungo considerada ameaçada de extinção simplesmente porque não existe uma lista vermelha de fungos. Essa carência parece ser decorrente do pequeno número de micólogos (cientistas que estudam fungos) no país, já que as listas de fauna e flora dependem da avaliação de um grupo relativamente extenso de especialistas. Em geral, o conhecimento sobre a diversidade de fungos no planeta está concentrado em países do hemisfério Norte e ainda ébastante escasso nos trópicos, justamente onde ocorre a maior parte dasespécies de fungos. Dessa forma, o desafio é evidente para os países tropicais: como conservar o que ainda não se conhece?
Promissoramente, a situação da micologia brasileira melhorou. Desde o início da década, o aumento do número de micólogos especializados na área de taxonomia vem sendo fundamental para aumentar o ritmo dos estudos, algo que está acontecendo de maneira consistente. O gráfico ao lado mostra um crescimento exponencial na produção de artigos que incluem a descrição de muitas novas espécies. Ele foi derivado de uma compilação da Plataforma Lattes sobre artigos publicados com taxonomia de fungos que incluem pesquisadores brasileiros entre 1970 e 2007. O aumento é oriundo principalmente de publicações de alunos de pós-graduação, muitos dos quais foram contratados recentemente, multiplicando a capacidade de orientar. A tendência é agregar cada vez mais alunos, o que vai gerar um maior volume de dados e uma demanda crescente pela gestão das informações sobre as coleções micológicas presentes nos herbários nacionais.
Demanda nacional: gerar e integrar dados
Além da coordenação dos dados gerados recentemente, uma das principais necessidades brasileiras é revisar e informatizar as informações sobre as coleções de fungos presentes nos herbários, utilizando uma plataforma comum para organizar os dados e permitir o acesso online. Isso vai permitir a avaliação da distribuição geográfica das espécies, uma informação básica necessária para realizar as avaliações de ameaça de extinção segundo os critérios da IUCN.
Algumas iniciativas em andamento no Brasil podem contribuir na geração e gestão dessas informações, servindo de exemplo na discussão sobre a integração dos dados. O Herbário Virtual da Flora e dos Fungos do Brasil (INCT Herbário Virtual), coordenado pela Dra. Leonor Costa Maia (UFPE), está desenvolvendo atividades nesse sentido, utilizando o programa Brahms (Botanical Research and Herbarium Management System) como plataforma base. A proposta do INCT é fornecer “à sociedade em geral, e ao poder público e comunidade científica em especial, infra-estrutura de dados de qualidade de acesso público e aberto integrando as informações das coleções científicas de plantas e fungos do país e repatriando dados sobre coletas realizadas em solo brasileiro, depositadas em acervos no exterior”.
Para maiores informações sobre o encontro "Fungal Conservation: science, infrastructure and politics" visite o site do evento.
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