28 de maio de 2009

25 de maio de 2009

IX Seminário PDBFF: Fernando Fernandez - resenha

Dr. Fernando Fernandez, no último seminário e com a “casa” cheia, nos brindou com muitas informações sobre dinâmica populacional de pequenos mamíferos em uma paisagem florestal fragmentada da Reserva Biológica de Poço das Antas na Região dos Lagos no Rio de Janeiro. 

Entre muitas coisas, Fernandez nos mostrou diretamente, utilizando-se de técnicas clássicas, como captura e recaptura ou o uso de rádio-colar, como a fragmentação florestal ou eventos drásticos como incêndios florestais podem moldar a estrutura das populações dos organismos que vivem em áreas isoladas ou que perderam o habitat natural. 


Além da percepção espacial, com monitoramento do movimento dos pequenos mamíferos entre fragmentos, permitindo assim inferir sobre o efeito da “insularização” de populações em um mar de capim exótico (uma famosa abstração da própria teoria de Biogeografia de Ilhas). 

A pesquisa também fez com que aumentasse o entendimento do próprio efeito desta matriz exótica, das características de migração ou extinção das populações e da história natural e comportamental destes organismos. Espaço e tempo andam juntos e assim foi interessante também ter visto toda esta problemática dentro da perspectiva temporal, como tais ambientes definem a dinâmica destas populações ao longo do tempo. 

Resultados desta linha de pesquisa podem ser usados didaticamente na formação de estudantes, no aperfeiçoamento do nível de conhecimento ou ir além e mudar a concepção sobre meio-ambiente na cabeça dos tomadores de decisão. Indiretamente, ficou claro que o esforço e a linha de pesquisa de longo prazo colaboraram na capacitação e treino de muitos alunos. 

Certamente e não menos interessantes foram os comentários ou a lembrança que as técnicas apresentadas diferem das técnicas que acompanham as probabilidades de predicção de organismos dentro da ecologia de populações, um assunto familiar para os alunos que atenderam o curso de ecologia de populações dado pelo Prof. Gonçalo Ferraz no programa de pós-graduação da Ecologia do INPA.

Fonte: [José Luís Camargo, PDBFF, 15/05/2009]

Crédito da imagem - Ana Cristina Segalin de Andrade

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21 de maio de 2009

14 de maio de 2009

VII Seminário PDBFF: Gonçalo Ferraz

No último seminário de abril, o Dr. Gonçalo Ferraz provocou a audiência já com o título de sua apresentação: PDBFF, 30 anos e uma pergunta? 

Há mesmo uma pergunta norteadora das atividades do PDBFF? 

A provocação, fruto das discussões que vem sendo travadas nos seminários prévios, foi laureada por um seminário elucidativo que pôde ser dividido em duas partes: (1) a origem do PDBFF baseado na discussão de um conceito – “SLOSS” – que movimentou a cena acadêmica/conservacionista na década de 1970 e uma relação entre este tema e as conquistas científicas que o PDBFF colheu nos últimos 30 anos e mais (2) análises inéditas da investigação que ele anda empenhado nos últimos tempos. 

Segundo o que foi apresentado, o PDBFF faz jus em ter a palavra dinâmica em seu título: as publicações originadas no PDBFF podem ser concentradas em áreas do conhecimento que trataram da: (i) dinâmica dos fragmentos florestais; (ii) dinâmica da matriz de entorno; (iii) dinâmica da borda florestal; (iv) dinâmica da paisagem e (v) dinâmica dos mecanismos que caracterizam os ecossistemas. 

Como gancho e um retorno ao início da apresentação, as novas análises propostas pelo Dr. Ferraz nos remeteu novamente ao conceito de uma grande reserva ou muitas pequenas com o mesmo tamanho (“SLOSS”) pelos olhos da modelagem e da dinâmica de ocorrência de aves no mosaico de reservas do PDBFF. Apenas para aguçar a curiosidade, logo todos terão acesso a este novo artigo e bem provavelmente uma nova discussão sobre SLOSS poderá surgir na literatura.

Fonte: [José Luís Camargo, PDBFF, 30/04/2009]

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3 de maio de 2009

BR-319: EIA-RIMA, PAC e DNIT

Diante da necessidade de analisar e avaliar a viabilidade de um determinado empreendimento sob um referencial comum, tanto para o empreendedor quanto para a sociedade (via órgãos públicos), é necessário elaborar o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e o RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). O Estudo e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental – EIA-RIMA são dois documentos distintos, que servem como instrumento de Avaliação de Impacto Ambiental – AIA, parte integrante do processo de licenciamento ambiental. O EIA contém as informações e dados que irão fundamentar o RIMA, que deve ser elaborado em linguagem simples para atingir diversos setores da sociedade e facilitar a análise por parte da população. O EIA-RIMA está vinculado à Licença Prévia, por se tratar de um estudo prévio dos impactos que poderão vir a ocorrer, com a instalação e/ou operação de um empreendimento. Trocando em miúdos, o EIA-RIMA é o instrumento que possibilita a negociação entre o empreendedor e a sociedade para o uso dos recursos naturais.


Como os objetivos de um EIA-RIMA é fornecer as informações necessárias para que a sociedade possa colocar na balança os prós e contras da execução de qualquer empreendimento, a imparcialidade deve ser uma premissa inviolável. Infelizmente essa diretriz não foi seguida durante a consulta pública do EIA-RIMA da Rodovia BR-319 realizado na noite do dia 28 de abril, em Manaus. A apresentação do relatório, feita pelo Sr. Alexandre Rivas, foi desastrosa, parecendo um amalgama apaixonado das metas do empreendedor (DNIT) com as diretrizes do governo, principalmente do PAC. Para se ter uma idéia, quatro cenários foram previstos: 1. com a estrada/sem governança; 2. com a estrada/com governança média; 3. com a estrada/com governança forte e 4. sem a estrada, ou seja, o “business as usual”. A análise desses cenários sugeriu que a opção sem a estrada é ambientalmente inviável. A linha de raciocínio argumentava que a área de entorno da estrada poderia ser desmatada no futuro porque atualmente não existe “governança” para região. Já com a estrada pavimentada a governança seria alta, o que manteria o meio ambiente protegido. No entanto, eu gostaria de saber como um local praticamente natural mantido assim por falta de acesso, pode se tornar ambientalmente inviável exatamente por continuar com falta de acesso. Sei que é confuso, mas foi a lógica defendida. Além do mais, em prol da coerência não deveria haver um cenário sem estrada, mas com governança?


Entre diversas faixas de apoio à repavimentação da rodovia circulando durante a audiência e depoimentos emocionados de deputados estaduais e prefeitos, o corolário de argumentações que enalteciam a importância do empreendimento parecia não ter fim. Fiquei sabendo que a fibra ótica vai passar pelo acostamento da BR, que nove postos de fiscalização manterão a ordem e a governança da região, que foram e serão criadas diversas unidades de conservação ao longo da rodovia, que a vida de 5.700 pessoas irá melhorar muito, que inúmeras pessoas poderão sair de Manaus a um custo menor, que essa estrada será a melhor estrada parque do mundo, etc. No entanto, informações sobre supressão de habitats, fragmentação florestal, previsão de uso e conversão da terra, mudanças na qualidade da água, reorganização social (com enfoque na via Brasil para Manaus, e não somente Manaus para o Brasil) entre outros fatores negativos não foram abordados ou foram tratados superficialmente. Detalhes mais concretos sobre os 21 programas ambientais propostos também ficaram de fora.


Não sou contra as estradas, reconheço sua importância. As primeiras rodovias, que inclui a BR-319, conectaram a região Norte ao resto do Brasil e foram construídas principalmente pelo governo federal na década de 70. No entanto, as rodovias representam um grande dilema: ajudam a reduzir o isolamento dos habitantes das áreas rurais e a melhorar sua qualidade de vida, mas normalmente geram impactos ambientais descontrolados, aumento dos conflitos sociais e dos índices de violência. Não precisa ser um gênio para saber que as estradas são um dos principais vetores de ocupação da Amazônia. Diversos estudos apontam para uma forte relação entre as estradas oficiais com o desmatamento e a mudança no uso da terra, convertendo áreas de vegetação nativa em plantações e pastagens.


Minha crítica não é se a estrada deve ou não deve ser repavimentada. Diversos profissionais experientes e muito mais habilitados do que eu travaram essa discussão em diversas instâncias. Essa crítica é direcionada à forma que o empreendimento foi apresentado e tratado durante a audiência pública. Ajudei a instalar a infra-estrutura de campo necessária de quatro dos seis locais de coleta e a identificar as formigas coletadas. Apesar de preliminar (porque só visitamos os dois primeiros pontos) os dados revelaram alta complementaridade das espécies em uma curta distância geográfica (50 km). Concluímos que, se a estrada é economicamente viável e se a re-pavimentação é a melhor alternativa (o “se” é de extrema importância, porque sem um deles o empreendimento perde o sentido), Unidades de Conservação devem ser criadas ao longo do entorno. Outras sugestões também foram apresentadas pelos pesquisadores de outros grupos taxonômicos para minimizar o impacto do empreendimento. Ponto final. O resto foi discurso retórico e mistura de objetivos.


As ações de contenção de danos ambientais podem e devem ser apresentadas no RIMA, mas espera-se que a aceitação e implementação dessas ações sejam defendidas na audiência pública pelo empreendedor, não pelo apresentador do RIMA. Infelizmente, o sistema de licenciamento ambiental estimula a mistura de interesses. Não faz sentido o empreendedor contratar e pagar o contratado. Essa falta de coerência culmina em episódios como o da semana passada, em que a pessoa que apresenta os resultados do estudo e defende o empreendimento é o contratado, que logicamente não quer ficar mal com o contratante.



Fabricio Baccaro
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