3 de dezembro de 2010

Projeto Carbono Suruí e lançamento do Google Earth Engine

Vídeo sobre o lançamento do Google Earth Engine, uma nova ferramenta que possibilita o processamento de um grande volume de imagens de satélite em segundos.




Com ela é possível rodar programas de monitoramento da cobertura florestal de desmatamento ou distúrbio florestais, como o CLASlite (Carnegie Institution for Science) e o Sistema de Alerta do Desmatamento (IMAZON).

Gabriel Carrero, pesquisador do Programa de Mudanças Climáticas do Idesam, apresentou em conjunto com Gregory Asner do Carnegie o exercício realizado na Terra Indígena Sete de Setembro utilizando o software CLASlite, e falou do potencial que essa nova ferramenta em plataforma online possibilitará no processamento rápido dos dados para projetos de REDD+.

Gabriel Carrero (foto) apresentou os resultados do exercício realizado com os Suruí em Rondônia


Além de apresentações explorando o potencial do Google Earth Engine foi realizado um workshop no uso do Open Data Kit para monitoramento florestal em campo. O Idesam realizou outra apresentação, dessa vez sobre do inventário piloto de carbono florestal utilizando o ODK na Terra Indígena Sete de Setembro, dos índios Suruí. Foram apresentados os métodos de campo, possíveis melhorias e as recomendações para o uso da tecnologia para esse fim. Como conclusão o uso do ODK demanda a metade do tempo para a produção de dados de biomassa e carbono florestal, não pelo tempo economizado na coleta de campo, mas salvo com o processamento dos dados após a coleta. O trabalho do Idesam, em parceria com a ACT-Brasil e a Associação Metareilá do Povo Suruí e com apoio a Fundação Moore, foi pioneiro no teste da tecnologia, além de contar com os próprios indígenas Suruí para a coleta de dados.

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12 de outubro de 2010

Os órfãos do Rio e a Sociedade Internacional para a Conservação de Fungos

Tradução livre do post Fungi: the orphans of Rio de David Minter*

4 de outubro de 2010

*Presidente da Associação Europeia de Micologia

É difícil exagerar na ênfase dada à importância dos fungos. Seu bem-estar é necessário para a vida sustentável neste planeta. Sem eles, estamos acabados. Para dar apenas um exemplo, os fungos são os recicladores da natureza. Como os coletores municipais de resíduos empregados para remover o lixo, nós não os notamos até que, por alguma razão, eles parem de trabalhar. Mas é assustador pensar que parar é algo que os fungos poderiam possivelmente fazer.

Os cientistas sabem há mais de 100 anos que, como animais e plantas, os fungos também são afetados pelas atividades destrutivas da humanidade. Já existem evidências de que as populações de muitas espécies estão em declínio: o impacto da poluição do ar sobre os fungos que formam líquenes é particularmente bem documentado. Embora ainda não haja informações suficientes sobre o estado de conservação de fungos, não há razão para supor que eles sejam menos vulneráveis do que outros grupos de organismos à perda de habitat e às mudanças climáticas.

Contudo, a consciência pública da importância dos fungos é muito baixa, até porque a biodiversidade - a diversidade plena e maravilhosa da vida - ainda é amplamente retratada como "flora e fauna" ou "animais e plantas". Estas descrições simplistas e enganosas podem ser encontradas até em sites de grandes instituições biológicas e sociedades científicas. A biodiversidade é muito mais do que os animais e as plantas. A classificação da vida em cinco reinos, que reconhece os fungos em um reino próprio, tem sido geralmente aceita pelos cientistas pelo menos desde 1970. Com uma estimativa de 1,5 milhão de espécies de fungos no planeta e uma presença em todos os principais ecossistemas de água doce, marinhos e terrestres, o reino dos fungos é megadiverso. Há muito mais
fungos do que todas as plantas e os vertebrados juntos. Ignorá-los não é uma opção sensata.

O movimento mais amplo de conservação, no entanto, permanece em grande parte sem conhecimento da necessidade de conservar os fungos. Habitats prioritários para conservação, tais como hotspots de biodiversidade, são quase sempre definidos com base em aves, mamíferos e na diversidade de plantas com flor. Os fungos não ganham nem uma lembrança. Isto significa que os habitats ricos em diversidade de fungos não são considerados e permanecem desprotegidos. A maioria dos planos de manejo de unidades de conservação não leva em conta os fungos. Os fungos são frequentemente tratados como parte do problema ao invés de serem reconhecidos como os que precisam de proteção. Em muitos países, não há proteção legal explícita para fungos.

Esta falta de consideração dos fungos foi evidente na Convenção do Rio sobre a Diversidade Biológica (CDB). Notavelmente, a CDB estabeleceu o direito à proteção a todas as formas de vida - e "todas as formas de vida" inclui fungos - mas seu texto classifica a biodiversidade como "animais, plantas e microrganismos", ou seja, dois reinos taxonômicos e uma terceira categoria definida pelo tamanho. Os fungos não pertencem ao reino animal nem ao vegetal, mas eles não incluíram nos cálculos alguns dos maiores indivíduos que vivem na Terra. Uma colônia geneticamente uniforme do cogumelo Armillaria
ostoyae na Floresta Nacional de Malheur no estado de Oregon cobre uma área de quase nove quilômetros quadrados, tornando-se muito maior do que a baleia azul ou qualquer uma das grandes sequóias. O termo microrganismo - a terceira categoria - portanto, não parece adequado.

Fungos simplesmente não se encaixam nessas definições inadequadas da CDB e por isso estão sofrendo as consequencias. O direito à proteção foi estabelecido, mas a Convenção não fornece estrutura para garantir que isso aconteça. Muitos planos de ação nacionais para a biodiversidade produzidos em resposta à Convenção deixaram de considerar os fungos
absolutamente. Os poucos que costumam considerá-los, os tratam como 'plantas inferiores' - um canto obscuro da Botânica. O ano de 2010 foi designado pela CDB como o Ano Internacional da Biodiversidade, mas nenhum fungo aparece no logotipo, nem os fungos são mencionados no vídeo promocional. Esta é uma evidência convincente e pública do fracasso completo pela CDB para proteger estes organismos extremamente importantes. Como David Hawksworth, um dos maiores especialistas mundiais em fungos, falou de forma tão eloquente, os fungos são de fato "os órfãos do Rio".

Agora, finalmente, algo está sendo feito para cobrir esta lacuna enorme no mundo da conservação. No dia 6 de agosto de 2010 no Royal Botanic Garden, em Edimburgo, uma reunião especial foi organizada para analisar o problema. Cientistas de 21 países participaram, contando com mensagens de apoio e interesse de muitos outros, totalizando mais de 40
países representados. Além disso, havia mensagens de apoio de uma série de sociedades científicas, ONGs e representantes nacionais do Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico, Técnico e Tecnológico da CDB (os cientistas que aconselham a Convenção do Rio). Depois de uma discussão animada, houve consenso generalizado de que tinha chegado o momento de criar a Sociedade Internacional para a Conservação de Fungos.

Esta nova sociedade já criou um site, mas até que a Constituição seja aprovada e um sistema de governo seja criado, não pode haver uma política formal.

As notas
seguintes são ideias meramente especulativas e experimentais sobre rumos gerais. Elas estão longe de estar completas, mas já está claro que a sociedade terá que trabalhar em pelo menos quatro áreas: infra-estrutura, educação, ciência e política.

1. Infra-estrutura. A Sociedade terá de começar a angariação de fundos. Pouco pode ser alcançado sem recursos. A sociedade deve promover e apoiar os esforços para estabelecer uma rede de sociedades de conservação de fungos com atuação em diferentes níveis (continental, nacional e local). Em particular, deve envolver os cientistas que trabalham com fungos que formam líquenes, que em muitos aspectos têm mais experiência de conservação do que aqueles que trabalham com outros fungos. Atualmente, a conservação de fungos é apoiada principalmente por ecólogos, taxonomistas e amadores. A sociedade precisa sensibilizar os cientistas que trabalham em laboratório com fungos, por exemplo no campo da genômica, de que os seus conhecimentos e experiência são relevantes para o movimento e que eles também têm a responsabilidade de promover a conservação. A sociedade deve procurar sensibilizar os curadores de coleções de fungos do importante papel destas entidades para a conservação ex situ de fungos. A Sociedade poderá também estabelecer ligações com outras organizações que promovem a conservação de grupos ignorados e pouco valorizados de organismos, de modo que a experiência e os recursos possam ser agrupados.

2. Educação. A Sociedade terá de trabalhar com as sociedades científicas micológicas para sensibilizar o público em geral e os seus governos sobre a importância dos fungos, para promover o ensino da micologia em todos os níveis da educação, e desenvolver sites educativos e outros recursos adequados para este objetivo.

3. Ciência. A Sociedade vai trabalhar para identificar, classificar e divulgar ameaças aos fungos, e para identificar áreas importantes para fungos (coldspots e hotspots) e para organismos associados, e avaliar impactos na sociedade humana que podem ocorrer como resultado do declínio da população
e extinções de fungos. A Sociedade promoverá ainda a perspectiva de que, sem levar em conta os fungos, a abordagem de ecossistema para a conservação está severamente comprometida, a ponto de ser inválida. Isto implicará na sensibilização de que os fungos são componentes essenciais dos ecossistemas.

4. Política. A Sociedade desenvolverá políticas e competências políticas, sempre que possível, aprendendo com as experiências das sociedades de conservação. A Sociedade procurará sensibilizar a importância dos fungos entre os Pontos de Foco Nacional da CDB, e também buscará envolver os governos que não são signatários da CDB, tornando-os conscientes da importância da conservação de fungos. A Sociedade procurará levantar o perfil dos fungos, em parte através de uma campanha para incentivar as instituições e as sociedades científicas biológicas a garantir que a linguagem utilizada em seus materiais promocionais reflitam adequadamente a real importância dos fungos. Isto tenderá, por exemplo, a desencorajar o uso da linguagem que causa confusão dos fungos com as plantas (por exemplo, Botânica não inclui Micologia, fungos não são 'plantas inferiores', eles não são parte de uma 'flora', etc.). O uso do termo "biodiversidade" como uma abreviação para se referir a animais e plantas também será desencorajado.

A sociedade deverá, finalmente, trabalhar para promover a representação por micólogos em organismos envolvidos com biodiversidade e conservação. Se os fungos são os "órfãos do Rio", então a Micologia, como uma órfã, compartilha pouco da riqueza da família (micólogos ficam normalmente escondidos em departamentos obscuros de instituições botânicas, ficando com uma parte muito pequena dos recursos) e raramente é consultada sobre questões familiares pelas ciências biológicas. Iniciativas focadas em
biodiversidade deveriam envolver sempre micólogos como parceiros desde sua concepção. Atualmente, em geral isso não acontece.

Os desafios para a conservação de fungos são assustadores, mas o assunto é demasiado importante para ser ignorado. Quase que inacreditavelmente, a Sociedade Internacional para a Conservação de Fungos parece ser o primeiro grupo em todo o mundo exclusiva e expressamente dedicado à proteção dos fungos. O estabelecimento foi um acontecimento importante e histórico para o mundo da conservação, mas é
apenas um primeiro passo. A sociedade é nova, pequena e inexperiente, e tem um enorme trabalho a fazer. Ela agora precisa de ajuda consistente, entusiasta e generosa, e apoio de outros agentes de conservação e de todos os que entendem a necessidade urgente de proteger os "órfãos do Rio".

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Tradução livre do texto original (Fungi: the orphans of Rio) por Ricardo Braga Neto

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8 de setembro de 2010

Parque Nacional do Viruá no Globo Universidade

No dia 21 de agosto de 2010, foi ao ar um programa Globo Universidade sobre pesquisas taxonômicas e ecológicas no Parque Nacional do Viruá, tendo como temas um curso de identificação botânica com o pesquisador Mike Hopkins (INPA) e entrevistas sobre sapos, cobras e lagartos (Marcelo Gordo - UFAM, Rafael de Fraga - INPA), peixes (Julio do Vale - INPA) e aves (Thiago Orsi - ex-INPA, atual ICMBio). O resultado foi um excelente programa de popularização das pesquisas em biodiversidade na Amazônia!


O Parque Nacional do Viruá tem cerca de 230.000 ha e está localizado no município de Caracaraí (RR). Em 2011, o parque deve abrir suas portas para a visitação pública e já tem muito a oferecer. O Viruá possui uma grade de pesquisa do PPBio instalada desde março de 2006. Lá já foram feitas diversas pesquisas, com destaque para serpentes e lagartos, primatas, mamíferos de médio e grande porte, besouros, formigas, peixes, vários grupos de plantas (herbáceas, Zingiberales, pteridófitas e lianas), além de muitas variáveis ambientais e ecossistêmicas que ajudam a descrever ecologicamente os ambientes do parque.

Veja aqui as pesquisas feitas no PARNA Viruá na grade do PPBio.


Grade de 25 km2 no Parque Nacional do Viruá. As linhas representam as trilhas do sistema RAPELD, adotado pelo PPBio e parceiros, padronizadas e com marcação a cada 100m; os pontos pretos são parcelas terrestres, distribuídas regularmente a cada 1 km. As pesquisas são feitas tanto nas trilhas quanto nas parcelas.


Para conhecer mais, visite:

Contato no Parque Nacional do Viruá:

  • Antonio Lisboa (ICMBio)
+55 (95) 3623-9513 | lisboa.ibama@gmail.com


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28 de agosto de 2010

TEDx Amazônia : Qualidade de vida para todas as espécies do planeta

O TEDx Amazônia reunirá pensadores de diversas áreas de conhecimento para falar sobre suas melhores ideias em palestras de 5 a 15 minutos. O tema desta primeira edição do evento será 'Qualidade de Vida para todas as espécies do planeta'.

O TEDx Amazônia acontecerá em novembro de 2010 e será gratuito.




Para saber mais, acesse: http://www.tedxamazonia.com.br/


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4 de agosto de 2010

Franciscanos do século XXI

Por João Vitor Campos e Silva

Ei biólogo, quanto vale vosso serviço? Uma pergunta difícil não? E, no entanto, não deveria ser!

Deveríamos ter na ponta da língua a importância e o valor de nossas atribuições. Tanto o valor econômico quanto o valor técnico, já que se trata de uma profissão propulsora da ciência e que se tornou fundamental para o desenvolvimento desse País!

Acontece que o problema vem de longe e nas curvas do tempo enraizou-se. O polivalente naturalista Alexander Von Humboldt, por exemplo, descobridor de tantas espécies, responsável pela confecção de dezenas de mapas das florestas e rios sul-americanos, ganhador de centenas de prêmios acadêmicos, considerado um dos maiores cientistas pela Sociedade Real inglesa e aclamado por acadêmicos alemães deveria ser bem pago para executar suas fabulosas expedições não é verdade?

Pois saibam que o que financiou sua mega viagem pela América Latina foi a estrondosa herança que recebeu por ser filho de um aristocrata! Assim foi também com Charles Darwin que, provavelmente, só conseguiu sistematizar sua revolucionária teoria por ser membro da burguesia! Isso jamais arranharia sua genialidade, mas nos faz compreender um pouco a situação do biólogo contemporâneo. Somos os sucessores desses antigos devotos da natureza que estruturaram grande parte do conhecimento científico, muitas vezes, à custa de suas fortunas particulares!

Mas e os que não possuíam as estrondosas heranças? Ora... passavam as mesmas dificuldades que passamos hoje enquanto bolsistas! Vejamos o caso de Alfred Russel Wallace. O biólogo britânico passou por ácidos momentos em sua carreira, dependendo as vezes da venda de insetos que coletava para garantir o sagrado pão do dia a dia (se fosse hoje seria preso por biopirataria!).

Em pleno século XXI o cenário é outro obviamente, mas no âmago da situação observamos particularidades muito semelhantes. O curso de Ciências biológicas ainda é um curso bastante elitista onde grande parte dos alunos recebe uma forte ajuda familiar para finalizar os estudos. E os que não possuem uma família abastada, sobrevivem não vendendo insetos, mas se virando!

Lembro-me que quando fazia parte do Centro Acadêmico organizava diversos eventos onde expoentes da Academia brasileira eram convidados para palestrar. Na esmagadora maioria das ocasiões os palestrantes cobravam apenas a passagem e a estadia. Quando indagados sobre essa nobre benevolência, eles disparavam: “Não recebo nada mas posso conhecer lugares e pessoas diferentes”. Ora ora ora... Quantos advogados, engenheiros, médicos ou administradores estão por aí palestrando de graça? Realmente não faz parte de nossa formação o pensamento mercadológico, sequer conseguimos valorar nossas atividades. Frente ao mercado andamos como antigos franciscanos subsistindo com nossa valiosa informação acerca do mundo.

Isso é ruim? Depende!

É muito louvável um conjunto de valores que questionam o atual modelo de desenvolvimento, de consumo e até de felicidade. Mas se quisermos enfrentar o mercado, temos que nos preparar para isso. Os alicerces com essa gama de valores que acreditamos ser essencial para um mundo melhor devem ser mantidos, mas devemos nos munir com algumas “armas” do mundo capitalista também. A questão não é de entrar no jogo sujo do dinheiro, mas sim de luta por uma qualidade de vida melhor!

Devemos investir na divulgação do que somos capazes, na Universidade temos que trabalhar por disciplinas que nos abram a visão para o mercado. A academia deve romper a barreira do preconceito e da prepotência e protagonizar um diálogo com o setor empresarial e governamental. Em todos os setores existem pessoas boas sonhando com um mundo mais justo e mais agradável. Devemos unir forças, já que muitas vezes nossos objetivos têm a mesma diretriz.

O biólogo será mais valorizado quando os muros das universidades e instituições de pesquisas forem transpostos para que a sociedade, em geral, possa reconhecer a importância e a nobreza dessa profissão. Podemos começar assumindo o compromisso de publicar nossas teses e dissertações não apenas em revistas científicas especializadas, mas também em outros veículos de informação populares, para que a dona de casa, o pedreiro ou o gari, também tenham acesso aos nossos mirabolantes resultados.

Tempos atrás me deparei com uma questão que me deixou abismado com nossa classe. Um conhecido me confessou que estava feliz da vida, pois estava bem financeiramente a custa de consultorias, eis que num determinado momento da conversa o segredo de sua ascensão financeira foi revelado: “o negócio é juntar os biólogos e pechinchar... muitos deles trabalham quase de graça, aí o grosso da grana vem pro meu bolso!” Pasmem pessoal!!!! Ele também é um biólogo! Essa falta de cooperação e auto-desvalorização endossa o caldo da amargura enfrentada pelos colegas de profissão desvalorizados. Devemos ser fortes ao negar pseudo-salários provenientes de consultorias sujas! Não devemos aceitar com apatia um salário de 400 reais! Alguns professores de biologia ganham isso!

Realmente se quisermos ver nossa profissão valorizada, devemos, primeiramente, valorizar o profissional que há dentro de nós!



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15 de julho de 2010

Kafka + Fogo “Amigo” = Zoologia no fundo do poço

Por Alexandre Aleixo

O escritor tcheco Franz Kafka, autor de jóias da literatura como "A Metamorfose" e "O Processo", tinha um talento especial para narrar como o insólito pode entrar na vida das pessoas sem qualquer aviso prévio e com conseqüências trágicas. A odisséia kafkaiana do biólogo Louri Klemann Jr. começou no dia 15 de maio deste ano no litoral do Paraná, mas seu fim ainda parece longe, com um possível desfecho que pode representar a total falência da Zoologia brasileira como uma ciência que se comunica eficientemente com o grande público e até com alguns de seus supostos líderes nos conselhos regionais de biologia.

O site "Google" é um medidor acurado da odisséia kafkaiana de Louri Klemann Jr. Quem digitar o nome completo dele achará várias entradas logo na primeira página. Nas mais acessadas, ele aparece como um criminoso condenado sem julgamento, como Joseph K., protagonista de "O Processo". Em outras, ele aparece como um prolífico consultor ambiental. Além disso, existe também o Louri Klemann Jr. mestrando do curso de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná, bem como aquele que trabalhou em associação com o ICMBIO, a Secretaria de Meio Ambiente do Paraná e o Instituto Ambiental do mesmo estado (IAP) em diversos projetos que vão desde a elaboração de planos de manejo de unidades de conservação, até a revisão da lista de espécies ameaçadas do Paraná e a elaboração de planos de ação para espécies ameaçadas do estado. Curiosamente, o mesmo IAP pode condená-lo em breve a pagar uma multa de 50 milhões de reais por crime ambiental...

Tudo tão contraditório que pode parecer que existem dois Louri Klemann Jr., antípodas um do outro: o criminoso ambiental impiedoso / psicopata implícito e o biólogo conservacionista de formação, parceiro dos órgãos ambientais no estado do Paraná. Infelizmente, todas as páginas do "Google" citadas acima tratam da mesma pessoa! Surpresos?! Lembre-se, como escrevi logo no início, este texto trata de uma odisséia kafkaiana. Mas vamos ao que interessa agora: quem é, afinal, Louri Klemann Jr. e por que é toda a Zoologia brasileira que está encarnando o papel de Joseph K. junto com ele num verdadeiro simulacro de processo por um crime inexistente?

A chave para entender a natureza real de Louri Klemann Jr. é o seu currículo Lattes, instrumento de avaliação acadêmica obrigatório no Brasil. Nele, estão bem caracterizados todos os Louri Klemann Jr. "do bem" das páginas do "Google", mas que se resumem em um só: um jovem e atuante zoólogo com especialidade em ornitologia, cujos feitos não são nada modestos para alguém que começou a cursar o mestrado ainda em 2010. Como, então, apareceu o Louri Klemann Jr. bandido, criminoso ambiental no mesmo "Google"? Qual a origem deste personagem, condenado pela mídia à condição de pária sem julgamento, tal qual Joseph K. em "O Processo"?

A persona Louri Klemann Jr., como aparece caracterizada nas páginas de "A Gazeta do Paraná" nas suas edições de 27 de junho, 4 e 6 de julho de 2010, dentre os links de Louri mais acessados no "Google" nestes dias, surgiu a partir da coleta de dois espécimes de guarás (Eudocimus ruber) em Guaratuba, no litoral do estado do Paraná. Digitem "guará" no "Google" e uma das primeiras entradas sobre a ave a surgir é ilustrada por um indivíduo adulto em magnífica plumagem vermelha carmesim, típica da espécie. Dado importante, e que fará sentido apenas mais adiante: os guarás coletados por Louri em nada se parecem com a ave vermelha vistosa do "Google", mais um dado a se juntar ao processo kafkaiano enfrentado por ele.

Comuns no norte do Brasil e, principalmente por isso, ausentes da lista nacional da fauna ameaçada de extinção, no estado do Paraná os guarás eram ainda considerados ameaçados de extinção até 2009, quando especialistas credenciados pelos órgãos ambientais do estado decidiram pela retirada da espécie da condição de ameaçada, uma vez que ela voltava a se estabelecer no litoral do estado, com até cerca de 200 indivíduos avistados recentemente em Guaraqueçaba. Como essa decisão ainda não foi homologada, o guará ainda é, burocraticamente pelo menos, considerado ameaçado no Paraná.

As histórias de Louri e dos guarás do Paraná se cruzaram no dia 15 de maio deste ano, quando o biólogo se encontrava em Guaratuba desenvolvendo um projeto de pesquisa de longo prazo sobre a avifauna do Paraná, que inclui o estudo e a coleta científica de espécies de aves não ameaçadas do estado, dentre elas duas espécies de íbis, parentes bem próximos do guará e que ocorrem em maior abundância na mesma área: o tapicuru-de-cara-pelada (Phimosus infuscatus) e a caraúna-de-cara-branca (Plegadis chihi). Apesar de parentes próximos dos guarás, estas duas espécies possuem plumagem escura, bem diversa do seu parente mais famoso e tido como ameaçado. Como zoólogo profissional, Louri se encontrava em Guaratuba devidamente autorizado por todos os órgãos ambientais nacionais e estaduais competentes para estudar e, quando necessário, coletar para fins científicos exemplares, dentre várias espécies não ameaçadas de extinção, do tapicuru-de-cara-pelada e da caraúna-de-cara-branca, que nesses casos deveriam ser depositados num dos mais conhecidos museus de história natural do Brasil: o Museu de História Natural Capão do Imbuia (MHNCI), ligado à Prefeitura Municipal de Curitiba. Como todo zoólogo no Brasil, o processo para a obtenção das devidas licenças enfrentado por Louri não foi trivial e envolveu a comprovação em todos os níveis da sua qualificação como profissional, bem como da relevância e adequação da coleta para o seu projeto de pesquisa, tudo avaliado por técnicos independentes, credenciados e com legitimidade para emitir pareceres, que poderiam ser favoráveis ou desfavoráveis. Neste caso, Louri teve assegurado dentro das esferas legais por todos os órgãos ambientais competentes, o direito pleno de coletar espécimes de aves para seu projeto de pesquisa.

No dia 15 de maio de 2010, logo após coletar dois espécimes de íbis de plumagem escura durante suas atividades de campo de rotina em Guaratuba, Louri verificou tratarem-se na verdade de guarás jovens, que nessa fase na vida ainda não exibem a plumagem vermelha carmesim icônica dos adultos, mas sim, a mesma plumagem escura que caracteriza adultos das duas das espécies de íbis não ameaçadas e cuja coleta lhe haviam sido autorizada (tapicuru-de-cara-pelada e caraúna-de-cara-branca).

Pois o processo kafkaiano contra Louri começou exatamente aí, com um equívoco que na verdade é previsto e tratado pela mesma legislação que o autorizou a trabalhar e coletar aves em Guaratuba como "Coleta Imprevista de Material Biológico", e que deve ser relatada oportunamente aos órgãos ambientais que concederam a licença de coleta de material biológico.

Simples? Caso encerrado? Não, lembre-se, o processo kafkaiano só está começando.

Os primeiros acusadores do "O Processo", desta vez na sua versão paranaense, foram pessoas que acusaram Louri de leviandade, de coletar os pobres guarás supostamente ameaçados de extinção de modo consciente e deliberado. "O Processo" foi então tomando corpo e em breve eram os vários órgãos de imprensa do estado do Paraná que se juntaram ao coro de acusadores, mas desta vez omitindo da opinião pública um fato importantíssimo: legalmente, Louri não infringiu qualquer lei ambiental; pelo contrário: está e esteve amparado nela o tempo todo, mesmo tenho cometido o equívoco de ter coletado acidentalmente uma espécie oficialmente listada como ameaçada de extinção num estado brasileiro. Ademais, toda a sua história pregressa, assim como o contexto da coleta dos guarás, o inocentam, com ampla margem, de qualquer acusação de má fé e mau uso da sua licença de coleta.

O "Processo" contra Louri adquiriu o auge de um drama kafkaiano quando o presidente do Conselho Regional de Biologia – 7 (CRBIO-7) veio a público engrossar o coro de algozes e declarar que, de antemão, o biólogo já poderia ser considerado errado e culpado pela coleta dos guarás, além de achar estranho o fato dos órgãos ambientais terem autorizado o mesmo a coletar espécimes da fauna. Para fechar com "chave de ouro", a autoridade máxima do CRBIO-7, com sede em Curitba, a mesma cidade que sedia a Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ), proferiu seu julgamento sobre a coleta científica: desnecessária para o estudo dos animais.

Definitivamente, Louri e nós zoólogos estamos "muito bem na foto". O presidente de um de nossos conselhos regionais mais influentes, quando vem a público se pronunciar sobre um episódio de coleta, além de declarar publicamente um colega culpado de antemão sem julgar o seu processo pelos trâmites regimentais, ignora por completo a legislação ambiental que rege a coleta científica no país, e, ainda por cima, não tem qualquer noção do papel da coleta científica para a zoologia.

E "O Processo" segue e, no seu calor, até o IAP declara a possibilidade de multar Louri em 50 milhões de reais, sem dúvida uma quantia modesta e justa, oferecida por qualquer mega-sena...

Como chegamos a esse ponto? Como, até mesmo os nossos representantes de classe ignoram por completo a legalidade e o valor da coleta científica e fornecem munição para campanhas de achaque e linchamento moral a zoólogos, ao invés de esclarecer ou pelo menos qualificar o debate junto á mídia e ao grande público? Tudo o que não precisamos nesse momento, é deste "fogo amigo", que sepulta por completo a esperança de que a justiça vai se fazer presente e nos acordar do pesadelo desta versão moderna e brasileira de "O Processo". Esse "fogo amigo", no fundo, mostra que a atividade de coleta científica no Brasil chegou ao fundo do poço.

Meses atrás, ficamos todos deprimidos com o incêndio das coleções biológicas do Butantan em São Paulo e nos manifestamos das mais diversas formas, fizemos barulho sobre o que achávamos ainda ser inadequado ou insuficiente e que colocava em perigo as coleções e a zoologia no Brasil.

O drama pessoal de Louri é outra tragédia da zoologia brasileira, com uma simbologia própria: se a tragédia do Butantan envolveu a perda de milhares de exemplares coletados ao longo de várias gerações de zoólogos, a tragédia de Louri envolve a perda futura de um número desconhecido de exemplares que não serão coletados por ele e pelas novas gerações num país cada vez menos informado sobre o que é, para que serve e como é regulada legalmente a coleta científica.

Vamos, como sociedade, exigir justiça nesse caso e evitar um final kafkaiano para "O Processo" de Louri Klemann Jr. Primeiramente, Louri precisa de nosso apoio para inocentá-lo de qualquer acusação de má-fé nesse episódio, como bem demonstram as condições e o contexto da coleta dos guarás em Guaratuba, além das credenciais por ele obtidas durante sua carreira profissional. Louri precisa da nossa ajuda e testemunho para se defender nos mais diversos processos que estão sendo abertos contra ele, inclusive aqueles que lhe cobram multas de valores insólitos, que devem estar lhe gerando uma angústia indescritível e com certeza o desestimulando a continuar com a atividade de coleta científica no futuro.

Além disso, temos que ativamente buscar espaço na imprensa e quaisquer foros para réplicas, esclarecimentos, retratações e ações afins, sempre que a coleta científica tiver uma cobertura parcial e sensacionalista, que contribui para repercuti-la negativamente junto à opinião pública. É inclusive uma sugestão minha instituir na Sociedade Brasileira de Zoologia (SBZ) e Sociedade Brasileira de Ornitologia (SBO), às quais sou filiado, comissões internas para esses casos, com a atribuição de avaliar cada caso e, quando oportuno, se pronunciar sempre que necessário junto à imprensa e o grande público de um modo geral. Não seria tampouco absurdo pensarmos em algum tipo de assistência jurídica permanente e de qualidade respaldando o trabalho dessas comissões.

Os personagens de Franz Kafka refletem sempre aquele que foi o drama pessoal do próprio autor: um indivíduo que, pela sua singularidade, sempre se sentiu culpado por ser diferente e aprendeu a não esperar outra coisa do mundo a não ser a rejeição gratuita associada à aniquilação. Num determinado ponto de "O Processo", percebemos que toda a busca pelos termos e mesmo sentido da acusação sobre Joseph K. é inútil, já que o próprio protagonista começa a se sentir culpado por um crime cujo teor ele mesmo desconhece. Portanto, Joseph K. acaba aceitando a pena capital que lhe é decretada até com um certo alívio, já que o seu grande "crime" afinal era e sempre foi a sua própria existência. Em resumo: Joseph K. já nasceu culpado de um crime a ser punido com a pena capital.

De modo análogo, a imprensa, boa parte da opinião pública e pelo menos um conselho regional de biologia tem o mesmo posicionamento sobre a coleta: sua simples concepção é errada e meritória de punição exemplar. Mesmo sem jamais ter ido às verdadeiras fontes, mesmo sem sequer ouvir as duas partes; mesmo sem admitir qualquer tipo de defesa.

Que isso não se repita mais com as coletas científicas no Brasil. Que nós não deixemos o obscurantismo transformar essa atividade prevista e regulada por lei e praticada por amantes e filósofos do mundo natural num crime banal, tornando-a equivalente ao desmatamento, especulação imobiliária e tráfico de animais silvestres, esses sim, os grandes vilões da fauna brasileira.

Alexandre Aleixo, Ph.D.
Curador da Coleção Ornitológica / Curator of Birds
Coordenação de Zoologia / Dept. of Zoology
MCT/Museu Paraense Emílio Goeldi
Caixa Postal 399
CEP 66040-170
Belém-PA
BRASIL
Tel. / Fax: 91-3274-1615
E-mail: aleixo@museu-goeldi.br



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7 de julho de 2010

Reacionário e predatório

Por Marcio Santilli

Venho resistindo há meses comentar declarações e posições assumidas pelo deputado Aldo Rebelo, companheiro de lutas nos tempos de ditadura e protagonista de uma longa e respeitável carreira política. Porém, sua condição de relator de proposta de alteração do Código Florestal brasileiro o expôs a equívocos graves e lamentáveis, capazes de desvirtuar a sua própria trajetória.

Para meu espanto, Aldo Rebelo sonegou qualquer elemento inovador à discussão sobre a lei de florestas, que são um ativo nacional da maior importância estratégica no presente e para o futuro, no contexto da crise climática e de escassez de recursos naturais que será uma forte marca deste século. O Código Florestal é a lei brasileira para florestas, não é lei agrícola e nem agrária, e o deputado apresentou uma proposta que confunde este fato básico e não reflete sobre a importância da própria floresta.

Floresta não é antinomia de “comida”, como parece crer o Aldo. Manter e recuperar ativos florestais é parte fundamental de qualquer estratégia econômica nacional que aponte para as economias do futuro. O Brasil é o maior detentor de florestas nativas do mundo, a despeito da sua condição de forte produtor e exportador de alimentos. A China já detém a maior área reflorestada do planeta, a despeito da sua gigantesca população e limitada extensão de terras agricultáveis. Julgar que a proteção e recuperação de florestas seja papo de gringo protecionista é dar um tremendo tiro no pé ao subestimar o cacife do Brasil no setor: biodiversidade, disponibilidade de água, estoques de carbono, serviços ambientais e climáticos, conhecimentos e culturas associados – inclusive muita comida, se for o caso.

Não que não haja gringos e nacionais dispostos a tudo em função de interesses econômicos específicos ou espúrios. E até “pesquisadores” gringos ridículos, dispostos a vender o peixe de direitos sobre estoques de carbono florestais alheios para produtores agrícolas gringos desavisados. O Aldo parece não perceber que, ao festejar o descobrimento de um estudo gringo ridículo como prova do “crime” dos que defendem as florestas brasileiras, atribui um papel menor – igualmente ridículo – à oportunidade que o destino lhe confere, como legislador, de pensar e formular o papel maior que as florestas podem e devem desempenhar numa estratégia brasileira de futuro.

É muito grave que o Aldo Rebelo se perfile, ideologicamente, aos chamados “céticos climáticos”, para colocar sob suspeita a ciência do clima, como se tudo que dela derive fosse integrante de uma conspiração protecionista. É um tapa na cara dos inúmeros pesquisadores brasileiros que integram o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) – Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas – da ONU, e de todos os nossos negociadores nos foros internacionais. O grau de mais de 95% de certeza científica sobre a origem antrópica da excessiva concentração de gases causadores do efeito estufa deveria ser considerado como um dado, e não como uma suspeita, por qualquer legislador atinente ao conhecimento contemporâneo.

Aldo Rebelo está brincando com fogo, literalmente, quando assina um parecer efetiva e assumidamente reacionário, subordinando a um delírio pseudonacionalista o trato da relação entre as florestas e o clima, ignorando a ciência contemporânea, sem perceber o quão importantes elas são e serão para os nossos filhos e netos, além dos filhos e netos dos outros. Ele não quer acreditar que elas tenham toda essa importância e, por isso mesmo, não consegue enxergar o papel positivo que elas podem jogar numa estratégia nacional. É como se fossem apenas obstáculos que impedem a produção de comida; e ponto final. Como se não se tratasse de uma lei de florestas, só de uma lei da anticomida que precisa ser enfraquecida.

Todos sabemos que há um passivo florestal histórico acumulado, que afeta parte da produção agrícola de várias regiões do país. E também que há perversidades da estrutura fundiária, assim como das políticas de ocupação do território, que induziram populações a constituírem os passivos acumulados. Mais do que isso, são notórios os fundamentos culturais que, historicamente, levaram nossos progenitores a ocuparem o território como ocuparam. Por exemplo, “limpar” uma área para plantar é uma expressão corriqueira. Além do papel que a terra pública barata, a ser “limpada”, exerceu desde a nossa formação econômica colonial.

Então, a lei de florestas bem poderia avançar nos incentivos, no replanejamento da ocupação das terras ao longo do tempo, nos mecanismos de mitigação e compensação de danos florestais insanáveis, na orientação dos agentes públicos ambientais para desempenhar função mais pró-ativa na melhoria dos padrões socioambientais das várias formas de produção agropecuária e florestal. A própria lei prevê a recuperação de passivos em até 30 anos, o que estimula não apenas o replanejamento da propriedade, grande ou pequena, mas o redesenho de bacias e paisagens. A mesma lógica, de aproximar gradativamente as situações de fato dos parâmetros mínimos de política florestal definidos na lei, também poderia ser aplicado nas próprias cidades, reduzindo-se áreas de risco e aumentando a sua capacidade de resistir a eventos climáticos extremos.

Mas a nova lei proposta pelo deputado Aldo não quer pensar em floresta, apenas – e equivocadamente – na comida que vem da não-floresta. Quando chega ao extremo de reduzir à insignificância as áreas de matas ciliares, essenciais para a saúde dos cursos d’água, avança do parecer reacionário para um substitutivo predatório. A pretexto de “libertar” a pequena agricultura de qualquer responsabilidade florestal, acaba perenizando a precariedade de condições socioambientais em que a agricultura familiar foi implantada em algumas regiões, atentando de forma irresponsável contra a boa qualidade presente e futura das águas para os próprios agricultores e para toda a população, além de expô-los a sinistros climáticos.

Um bom olhar sobre os territórios concretos, inclusive aqueles em que predomina a agricultura familiar, pode perceber que os passivos existentes são menores e mais facilmente recuperáveis do que alegam os adversários da lei. Que muitos proprietários, pequenos e grandes, estão fazendo o replanejamento das suas propriedades, diversificando ou intensificando a sua produção e também recuperando passivos e agregando valores ambientais aos seus produtos. Que regiões inteiras estão migrando economicamente de uma pecuária extensiva original para outras formas de produção, inclusive florestal e até de turismo rural.

O que falta para adequar a agropecuária a parâmetros mínimos de qualidade socioambiental, em regiões com significativo passivo florestal acumulado, não é propriamente lei, embora uma estratégia nacional para as florestas, uma vez melhor definida, possa demandar revisões de dispositivos legais existentes e incorporação de novos. O que falta são instrumentos objetivos, políticas de incentivos acessíveis, planejamento territorial local, articulação entre os agentes públicos, assistência técnica apropriada, valorização dos produtos e culturas agrícolas regionais.

Até concordo que o Código Florestal poderia responder melhor a uma parte dessa demanda. Por exemplo, introduzindo parâmetros qualitativos, como o estímulo à conectividade entre reservas legais e áreas de proteção permanente, que possam flexibilizar os parâmetros quantitativos já definidos em lei com vantagens comparativas para uma boa estratégia de política florestal. Mas a preocupação central do deputado Aldo com a comida demandaria a reforma de outras leis agrícolas, agrárias, ademais das normas de regem programas setoriais de governo, sendo incabível debitar ao Código Florestal e – mais ainda – ao patrimônio florestal brasileiro, o ônus pela fragilidade histórica das políticas que acumularam os passivos existentes.

Porém, a peça produzida por Aldo Rebelo, e que ele pretende ver sacramentada rapidinho entre as quatro paredes de uma comissão especial, no apagar das luzes de uma legislatura sofrível, às vésperas de eleições gerais, parte de falsos pressupostos para chegar a um resultado lamentável. Ela é não é emendável. Ela é premeditadamente contrária ao patrimônio florestal, não responde a qualquer política florestal, não consulta a população da floresta, nem o setor produtivo da floresta, nem os que estudam a floresta, e sequer reconhece o inegável papel que a saúde florestal exerce para a saúde climática e para o bem-estar das populações.

Ainda assim, chamo-lhe a atenção para equívocos adicionais de formulação presentes na sua peça que parecem ir mais além das aberrações de mérito expressamente pretendidas pelo relator. Ao estabelecer a figura dos “módulos fiscais” como parâmetro de isenção para a manutenção de reservas legais, em vez de beneficiar pequenos proprietários rurais, como o relator manifesta ser a sua intenção, está, na verdade, subordinando as reservas legais a uma imensa barafunda cartorial, inviabilizando a aplicabilidade da lei e a gestão da questão pelos órgãos públicos em função das múltiplas situações de propriedades constituídas por uma pluralidade de títulos, parcelados e parceláveis, legitimamente ou através de manipulações cartoriais, e tudo o mais que o caótico arcabouço fundiário possa ainda propiciar.

Espero, ao menos, que as modificações que o relator se dispõe a realizar no seu substitutivo possam restabelecer um resquício de compromisso em evitar o caos. Não será fácil, pois o princípio da isenção com relação à responsabilidade florestal e com a saúde ambiental da propriedade ou da posse, assim como o da anistia ou mera “legalização” de passivos em massa, não ensejam um caminho fácil para evitar adicionais dissabores e responsabilidades por conseqüências que tenderão a se interpor para além das intenções.

E, ao mais, que ainda sofra alguma recaída de bom senso, ou ouça algum bom conselho de quem lhe possa aconselhar, e se disponha a rever o conjunto da obra. Que reponha o foco correto, principal, prioritário, sobre uma política florestal brasileira, que é a que corresponde, em primeiro lugar, à reforma do Código Florestal. Que se disponha a reabrir discussões centrais de mérito e a abrir mão de votações de afogadilho. Que considere correlações de forças que são nacionais, determinadas pela imensa maioria da população brasileira, inclusive agricultores, que desaprova o desmatamento, e não se deixe apequenar diante das correlações artificialmente produzidas nos estreitos limites de uma comissão especial ou de interesses corporativos específicos.

1/7/2010


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11 de junho de 2010

Falta de acesso ao acervo da biblioteca do Inpa limita o desenvolvimento acadêmico de seus alunos


Um País é feito de Homens e Livros
Monteiro Lobato

Por
João Vitor C. e Silva - JB

Caros pesquisadores, alunos e servidores, cá estou para derramar sobre esse papel uma grande angústia que chega a me causar calafrios nas tardes acaloradas dessa babilônia. Não estaria expondo minha singela opinião se por trás da crítica não estivesse um dos maiores institutos (se não o maior) de pesquisas tropicais do mundo. Mas a todo instante, em meio a esse bosque repleto de inspiração, me vem à cabeça a perturbadora pergunta: Para que serve a biblioteca do INPA?

Navegando pelo site da referida instituição, espantosamente, encontro as seguintes informações:

Biblioteca do Inpa é referência sobre Amazônia. Criada em julho de 1954 reúne uma das maiores bibliografias nacionais sobre a Amazônia. Dissertações de mestrado, teses de doutorado, monografias e livros publicados pelo Inpa, além de toda a coleção da revista científica Acta Amazônica, figuram entre as mais de 199 mil obras do acervo”.

Ora, se a biblioteca é referência para a Amazônia por que tratar os livros como jóias que devem ser guardadas a sete chaves? O objetivo maior de uma biblioteca não deveria ser a facilitação do encontro entre o leitor e a obra? Para que serve uma biblioteca se não for para promover o desenvolvimento cultural, artístico, científico e político de seus usuários?

Inúmeras vezes adentrei os espaço da biblioteca com o objetivo de conhecer algumas dessas quase 200 mil obras sobra a Amazônia, mas é impossível! Só há acesso às obras que já conhecemos ou ouvimos falar. No maior instituto de pesquisa da Amazônia não nos dão o direito de garimpar a informação dentro do próprio acervo de consulta! Obviamente que a crítica não é aos servidores que trabalham muito bem e em todas as ocasiões que estive por lá sempre foram muito solícitos. No entanto, o sistema bibliotecário do INPA é bastante ineficiente e poda a possibilidade de germinação e proliferação de grandes idéias!

Muitas vezes as belas descobertas não ocorrem pelos caminhos exatos de uma reta e sim pelas tortuosas incertezas de uma curva. Recordo-me, nesse parco tempo de vida acadêmica, que foi procurando algum tratado de biologia evolutiva que descobri a poesia de Pablo Neruda; e foi vasculhando a ecologia de Pianka que aflorou em minhas mãos a crítica contundente de Henry Thoreau. Lembro-me também, que foi entre pesquisas sobre ácidos oxalacéticos e málicos do ciclo de krebs que descobri o valioso livro “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro.

Senhoras e senhores, não façamos de uma biblioteca um espaço bancário que se mantém apenas sobre o sombrio balanço entre empréstimos e devoluções. Façamos dela um local de descobertas, um portal para as belas façanhas humanas, façamos dela a cura para nossos devaneios ou a loucura necessária para o brilho de nossa sobriedade, isso é extremamente importante para a formação ampla de um cientista!!!

Mas para isso, é fundamental que a biblioteca tenha um LIVRE ACESSO A SEUS ACERVOS!!!!!

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9 de junho de 2010

Palestras do PDBFF: Informatics approaches to enable reproducible science

Palestra será ministrada por Matthew B. Jones, que está em Manaus para treinamento na utilização do banco de dados do projeto "Gerenciamento de dados de Projetos Ecológicos de Longa Duração". Dia 10/06/2010 às 17 horas no auditório do BADPI, INPA - Campus II.

O pesquisador Matthew Jones, do National Center for Ecological Analysis and Synthesis - NCEAS, está em Manaus de 5 a 12 de junho para conduzir um treinamento sobre a implantação dos softwares Metacat (um repositório de dados e metadados livre e flexível para armazenar dados científicos, especialmente relacionados com estudos em biologia e ciências ambientais) e Morpho (um editor de metadados). Esses softwares foram desenvolvidos pelo Knowledge Network for Biocomplexity (KNB) e serão utilizados pelos projetos PELD do Brasil. Esse treinamento faz parte do projeto CNPq: Gerenciamento de dados de Projetos Ecológicos de Longa Duração.



Na quinta-feira Matthew ministrará uma palestra para o público em geral no ciclo de palestras do PDBFF.

Informatics approaches to enable reproducible science

Palestrante: Dr. Matthew Jones - Director of Informatics Research & Development. National Center for Ecological Analysis and Synthesis - NCEAS

Data: 10/06/2010. (Quinta-feira)

Hora: 17:00 h

Local: Auditório do BADPI (Campus II-INPA)

Entrada Gratuita

Resumo: Pressures on environmental and ecological systems have stimulated broad scale,interdisciplinary approaches to studying and understanding natural systems. Matthew Jones from NCEAS at UC Santa Barbara will discuss the importance of sharing data and analysis in open, reproducible systems in order to facilitate cross-cutting analysis and modeling approaches. By adopting open science, open data, and open source approaches, we can maximize the utility of scienctific information for environmental policy issues.

Informações: ppbio@inpa.gov.br


Localização de dados que já estão armazenados
na rede KNB (http://knb.ecoinformatics.org/).



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26 de maio de 2010

A Gatiara: um exemplo da falta de conhecimento sobre a Biodiversidade Amazônica

O conhecimento sobre a biodiversidade nas florestas tropicais ainda é relativamente baixo e até mesmo nos grupos mais estudados, como os mamíferos, grande lacunas no conhecimento básico sobre as espécies são comuns. Na floresta amazônica isso é bem evidente, sendo comum que expedições científicas a lugares pouco ou nunca estudados revelem registros novos para espécies conhecidas ou ainda revelem táxons novos para a ciência.

Animais conhecidos mundialmente pelo nome de olingos (gênero Bassaricyon; figura 1) estão entre os mais desconhecidos mamíferos neotropicais, embora tenham sido descritos pela ciência há mais de 100 anos. Estes animais pertencem à ordem Carnivora e à família Procionidae, a qual inclui os coatis, guaxinins e juparás. Os olingos são solitários, arborícolas e noturnos e, embora sejam dessa ordem, alimentam-se quase que exclusivamente de frutos e néctar. Bassaricyon alleni é uma espécie de olingo que ocorre no oeste da Amazônia, relacionado às áreas mais produtivas deste bioma, onde quase nada se conhece sobre sua história natural e praticamente era desconhecido em território brasileiro.

Figura 1Bassaricyon gabbii fotografado na Reserva Biológica Bosque Nuboso Monteverde, Costa Rica (março de 2007) por John Lowes.

Entretanto, um recente estudo publicado on-line na revista Mammalia (Sampaio et al., 2010), baseado em registros e espécimes coletados de nove localidades, mostrou uma impressionante ampliação da distribuição geográfica desta espécie em mais de 1000 km na Amazônia Brasileira (figura 2). Estes pesquisadores determinaram que sua distribuição agora se limita ao sul do Rio Amazonas e a oeste do Rio Madeira. Contudo, eles não descartam a hipótese de que esta espécie possa ocorrer a leste do Madeira e que populações independentes ainda possam ser reveladas para este táxon, conforme mais estudos forem realizados.

Figura 2 – Mapa mostrando a distribuição geográfica de Bassaricyon alleni no norte da América do Sul. A área em verde-escuro indica a prévia distribuição geográfica para a espécie, enquanto que a área verde-claro indica a sua “nova” potencial área de ocorrência na Amazônia Brasileira. As estrelas indicam os locais estudados (Sampaio et al., 2010).

Estes pesquisadores indicaram que a distribuição geográfica desta espécie está muito mais relacionada à falta de dados da espécie do que à produtividade das florestas amazônicas, como previamente se acreditava. É sabido que seu hábito arborícola e noturno contribui para aumentar a dificuldade em seu estudo, mas, além disso, podem ser confundidos por moradores locais, e mesmo por pesquisadores, com outros mamíferos de porte e hábito semelhantes, como macacos-da-noite (Aotus spp.) e juparás (Potos flavus), o que pode levar os olingos a serem negligenciados em levantamentos biológicos.

Bassaricyon alleni pode ser reconhecido pelo nome de gatiara, macaco-janauí/janauaí/januí ou miru-miru por moradores locais da Amazônia Brasileira. As maiores ameaças para a conservação desta espécie relacionam-se à perda de habitat. Esta ameaça pode ser mais presente justamente nas áreas a leste de sua "nova" distribuição geográfica (interflúvio madeira-purus), onde a cobertura florestal poderá ser drasticamente reduzida em um futuro próximo, influenciada pela reconstrução da BR-319 (Manaus-Porto Velho) e construção de duas hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio) no Rio Madeira.


Segue a referência do artigo.

Sampaio R, Munari D, Röhe F, Ravetta, AL, Rubim, P, Farias, IP, da Silva, MNF e Cohn-Haft, M (2010). New distribution limits of Bassaricyon alleni Thomas 1880 and insights on an overlooked species in the Western Brazilian Amazon. Mammalia. DOI 10.1515/MAMM.2010.008

Para obter o artigo entre em contato com o autor correspondente – rcosampaio@gmail.com



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25 de maio de 2010

Lista de Espécies da Flora do Brasil

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro publicou no dia 21 de maio de 2010 a Lista de Espécies da Flora do Brasil, que inclui em seu acervo milhares de espécies de algas, pteridófitas, briófitas, gimnospermas, angiospermas e fungos. O projeto é resultado do trabalho conjunto de várias instituições e pesquisadores, que disponibilizaram informações para compor a base de dados inicial do sistema.

Todas essas informações podem ser consultadas no site http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2010/ por meio de um formulário eletrônico (reproduzido acima), que leva em conta aspectos taxonômicos e geográficos.

A lista ainda é preliminar, mas já contém um total de 41.120 espécies da flora brasileira, sendo 3.633 de Fungos, 3.509 de Algas, 1.521 de Briófitas, 1.177 de Pteridófitas, 23 de Gimnospermas e 31.257 de Angiospermas.

É uma das melhores notícias dos últimos anos, pois de fato existe uma necessidade enorme de sintetizar o conhecimento existente sobre a biodiversidade no Brasil. Esperamos que esse seja apenas o começo. Para consolidar e complementar essa excelente iniciativa, o governo brasileiro deve direcionar um grande aporte de recursos para modernizar e ampliar as coleções biológicas em todo o país, atuando com veemência para impedir que tragédias, como a do Instituto Butantan em São Paulo, venham a destruir parte do nosso inestimável patrimônio cultural.


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Gato-maracajá simula chamadas de Sauim-de-coleira para atrair suas presas

Gato-maracajá (Leopardus wiedii), fonte - wikipedia

Mesmo se passarem anos no campo, os pesquisadores raramente testemunham a predação de primatas. Os gatos, aves e outros caçadores regularmente se alimentam de espécies de primatas, mas o que sabemos sobre os hábitos dos caçadores de primatas frequentemente vem a partir de ossos e unhas encontradas nas fezes do predador. De vez em quando, porém, alguém está no lugar certo e na hora certa para observar uma tentativa do predador de pegar um primata para o jantar e uma observação recente na Amazônia revelou uma técnica engenhosa de caça empregada por um pequeno gato malhado.

Embora seja conhecido pela ciência por quase 200 anos, o gato-maracajá (Leopardus wiedii) ainda é um dos mais enigmáticos gatos do mundo. Ele passa a maior parte de sua vida nas árvores das florestas tropicais da América Central e do Sul, e, como acontece com muitas espécies arbóreas, ela se tornou especialmente difícil de seguir e estudar. Conforme relatado por Ellen Wang, com base em 20 amostras fecais, sabemos que grande parte da sua dieta é composta de pequenos roedores, mas como os gatos efetivamente caçam estes animais no topo das árvores é amplamente desconhecido.

Para descobrir, os pesquisadores Fabiano de Oliveira
Calleia, Fabio Rohe e Marcelo Gordo entrevistaram pessoas que tinham vivido na floresta por toda a sua vida sobre como os gatos-maracajá caçam. Curiosamente, uma observação comum era que os gatos imitam as chamadas de suas presas para atraí-las. Pumas, leopardos e onças-pintadas têm sido observadas utilizando essas técnicas e em 2005 os pesquisadores foram capazes de confirmar os relatos.

Ao fazer observações de campo na Reserva Florestal Adolpho Ducke, os pesquisadores avistaram um grupo de oito sauins-de-coleira (Saguinus bicolor), que havia se estabelecido em uma figueira para se alimentar. Havia um gato-maracajá por perto, mas ao invés de investir contra o grupo de primatas, o gato fez chamadas imitando os filhotes de sauim. O macaco que estava de vigia não sabia o que fazer diante dessa situação. Ela subia e descia da árvore, numa tentativa de descobrir o que estava acontecendo, fazendo chamadas para alertar os outros sauins que algo suspeito se passava. Depois de alguns minutos, as chamadas estranhas pararam, mas cerca de dez minutos depois, os quatro macacos
restantes foram para longe deste ponto de alimentação. O gato-maracajá foi vindo em direção a eles através de uma liana ligada à árvore de alimentação, mas já não havia chance de ele pegar um dos macacos.

Mesmo
tendo falhado a tentativa de predação, os pesquisadores sugeriram que a imitação pode ser uma estratégia eficaz dos gatos para a caça. Imitando as chamadas de sauins eles podem chamar indivíduos para perto em uma posição melhor para o ataque. Sabendo que um número de presas usam vocalizações imitáveis para demarcar território, um macaco ou outra presa que pensa que está vindo para afastar um concorrente, pode, ao invés disso, ficar cara a cara com um gato-maracajá.

Veja o artigo na íntegra :: de Oliveira Calleia, F., Rohe, F., & Gordo, M. (2009). Hunting Strategy of the Margay to Attract the Wild Pied Tamarin. Neotropical Primates, 16(1):32-34 DOI: 10.1896/044.016.0107

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Tradução livre do post :: Margays mimick monkey calls to lure their prey (Brian Switek) :: Laelaps - Science blogs (http://scienceblogs.com).


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6 de maio de 2010

Ciclo de seminários do PDBFF

Padrões de distribuição espacial de samambaias na Amazônia. Uma análise em grande escala.

Palestrante: Gabriela Zuquim
Aluna de doutorado na Universidade de Turku, Finlândia
Bolsista do Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio/INPA)

Data: 07/05/2010 (Sexta-feira)

Hora: 17:00h

Local: Auditório do BADPI (Campus II - INPA, Manaus)


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21 de abril de 2010

Sobre a persistência em longo prazo de mamíferos de médio e grande porte em fragmentos florestais na Amazônia brasileira


Prezados colegas,

É com grande satisfação com que venho compartilhar com vocês algumas informações que estão publicadas (on-line) na revista Biodiversity and Conservation, sobre minha dissertação de mestrado em Ecologia no INPA (2007). Trata-se de um trabalho que estudou a persistência de espécies de mamíferos de médio e grande porte nos fragmentos florestais de Alter-do-Chão, assim com em outras duas paisagens adjacentes com diferentes proporções de cobertura florestal remanescente, incluindo a Flona Tapajós (600 mil ha), na região oeste do Estado do Pará, próximo a cidade de Santarém.

Mapa da região oeste do estado do Pará. As áreas em cinza representam a cobertura florestal remanescente, baseado nos dados do PRODES até 2006 (www.obt.inpe.br/prodes). Os círculos em branco indicam os sítios amostrados em L1 – parte da Floresta Nacional do Tapajós; L2 – Comunidades do Eixo Forte; L3 – Fragmentos florestais de Alter-do-Chão.

Este artigo traz informações interessantes do ponto de vista conservacionista, pois a pressão de desmatamento naquela região, que está sob influência da BR-163 (Santarém-Cuiabá), é crescente. Nós observamos que a cobertura florestal teve papel chave na persistência de espécies nas três paisagens, contudo populações de espécies de maior porte foram reduzidas e/ou localmente extintas pela caça mesmo nas paisagens com maior proporção de cobertura florestal. Várias espécies caçadas e não caçadas por moradores locais persistiram nos fragmentos florestais (70% da biota regional), embora se eles fossem considerados de forma isolada, provavelmente não suportariam populações viáveis de boa parte desta biota regional.

O cenário apresentado neste artigo pode ser interpretado com uma condição futura para paisagens na Amazônia e até mesmo nos trópicos úmidos. Grandes áreas protegidas são críticas para conservar a biota tropical, mas sozinhas estas áreas podem não ser suficientes para a conservação de todas as espécies e o futuro das mesmas é dependente do uso da terra em paisagens dominadas por humanos. Até mesmo pequenos hábitats fragmentados retêm considerável valor de conservação em longo prazo, desde que manejados em um contexto onde se assegure e/ou aumente a conectividade entre hábitats.

Medidas legais, como o cumprimento do código florestal, devem assegurar que a conectividade estrutural seja eficiente para possibilitar a dispersão de indivíduos (sistema fonte-sumidouro). Esta perspectiva aliada a implementação de planos de manejo para as espécies caçadas localmente e usos mais sustentáveis da terra, podem de forma efetiva contribuir para a persistência da diversidade florestal nas paisagens tropicais cada vez mais alteradas pela ação do homem.

Mas esse caminho, entretanto, não parece ser seguido pela nossa atual governança, que prefere hidrelétricas, rodovias e alterações do código florestal para que o Brasil e a Amazônia possam se desenvolver, de uma forma que eles ainda insistem em chamar de "sustentável".

Segue o link do artigo...

http://www.springerlink.com/content/f43317701686r26w/

Abraço a todos e obrigado pela atenção!

Ricardo Sampaio


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