9 de outubro de 2008

Resumo da Reunião de 02 de Outubro

Pessoal, boa tarde pra quem é de boa tarde... Como previsto, apresentei nesta quinta-feira um pouco sobre o que fiz (profissionalmente!!) nos últimos 3 anos e meio em Manaus. Segue abaixo um resumo (bom, eu tentei...) do que foi tratado na apresentação (baixe o pdf aqui!). Quem tiver interesse, pode escutar o áudio da apresentação (baixe o arquivo em mp3 aqui!)

Resumo
Trabalhos sobre igarapés de cabeceira na Amazônia são difíceis devido principalmente à maior dificuldade de acesso. Sobre os grandes rios amazônicos estudos mostram a forte relação da fauna da calha principal com a planície inundável, relatando migrações laterais, longitudinais, mudanças na composição, todos estes padrões e processos relacionados a mudanças temporais no ambiente. Em igarapés de cabeceira, poucos estudos objetivaram estudar variações ao longo do tempo na composição da ictiofauna (p.e. Bührnheim & Cox-Fernandes 2001).

Buscando determinar padrões de variação temporal na ictiofauna, fizemos 3 amostragens de peixes e características ambientais em 31 igarapés da Reserva Ducke, ao longo de um ciclo hidrológico completo (setembro de 2005 e agosto de 2006). Utilizamos exatamente os mesmos trechos de 50m de igarapés em todas as amostragens, que são parcelas aquáticas permanentes estabelecidas em 2000.

Utilizamos a base de dados de Mendonça et al. (2005) disponibilizada pelo PPBio para realizar comparações com o ano de 2001. O número médio de indivíduos capturados por igarapé em 2006 foi maior que em 2001. Das 54 espécies capturadas, 19 foram novos registros para a área. Por outro lado, deixamos de detectar 14 espécies que haviam sido registradas. As principais diferenças de composição entre os anos foram relacionadas a estas espécies 'raras'. A composição geral, baseadas na abundância das espécies, não foi diferente entre os anos.

Já dentro do ano, detectamos diferenças significativas entre os períodos secos e o período chuvoso. O número de indivíduos capturados por igarapé foi menor no período chuvoso. A composição de espécies dos igarapés apresentou uma tendência significativa de mudar em uma direção coordenada entre o primeiro período seco e o chuvoso, e deste período para a segunda seca tendeu a retornar à composição da primeira seca (p.e. figura abaixo; dados de presença e ausência).
As linhas ligam a composição (resumida por nMDS) de um mesmo igarapé nas 3 diferentes amostragens: circulos abertos são a primeira seca; os vértices são o período chuvoso; e círculos abertos a segunda seca.

Variáveis físico-químicas da água e a composição do substrato dos igarapés foram diferentes entre seca e chuva, mas não afetaram as variações da ictiofauna.

Sugerimos que as diferenças de composição estejam relacionadas à utilização de poças temporárias pelos peixes no período chuvoso e ao seu retorno para o canal principal após este período. Concluímos, diferente de estudos anteriores, que existem diferenças significativas na composição da ictiofauna de pequenos igarapés de tera-firme entre momentos do ano e, assim, que a sazonalidade deve ser levada em conta quando se compara estudos realizados em diferentes áreas e períodos.

Atualmente, como bolsista PCI, e em parceria com Murilo Sversut, estamos desenvolvendo um estudo em 12 igarapés das bacia do Acará e Tinga, na Reserva Ducke. A idéia é amostrar todo o ambiente aquático da terra-firme, que envolve os igarapés, poças temporárias e permanentes, e ambientes alagados conectados temporariamente aos igarapés. Estudos sobre comportamento, reprodução, dieta, e experimentos de marcação e recaptura de alguns grupos de espécies, serão as ferramentas para tentar entender melhor os processos biológicos relacionados às diferenças detectadas ao longo do ano.

Por enquanto, a melhor referência sobre estes estudos é minha dissertação. Em breve, será publicado o artigo sobre sazonalidade, e postarei aqui um link para ele.

Abraço a todos. E compareçam na próxima reunião!!

Referência citada e não linkada:
BÜHRNHEIM, C. M. & COX­FERNANDES, C. 2001. Low seasonal variation of fish assemblages in Amazonian rain forest streams. Ichthyological Exploration of Freshwaters, 12: 65­78.

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