30 de junho de 2009

Desmatamento tira Belém da Copa do Mundo. Bom para Roraima?

Por Ciro Campos [Folha de Boa Vista, 30/06/09]

Belém perdeu pra Manaus por razões técnicas, políticas, econômicas, geográficas, etc. É nesse ‘etc’ que entra o desmatamento. Pará e Amazonas são bons de infra-estrutura, mas pra sede amazônica da Copa o importante era a natureza. Nesse quesito o Amazonas deu de goleada, jogando com sua floresta conservada, contra um Pará que já entrou em campo com todo aquele desmatamento.

A Copa é uma vitrine onde o país exibe ao mundo o que tem de melhor, e os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia. O desmatamento, portanto, é o tipo de coisa que o anfitrião gostaria de esconder embaixo do gramado, se pudesse. Agora o Brasil vai investir bilhões em Manaus e nas outras sedes, mas vai ter que investir outros bilhões em projetos sustentáveis na Amazônia toda, se não quiser chegar em 2014 com a floresta queimando o nosso filme.

Manaus ter sido a escolhida pode ser bom para Roraima. Se o ingresso não for coisa de rico o povo vai poder assistir, e a movimentação pode ajudar a projetar o estado como destino turístico. Potencial não falta, mas pra isso acontecer é preciso mais que atrativos e estrutura, é preciso saber vender o que o mundo do turismo quer comprar e usar a usar a propaganda certa. É seguir mais o exemplo do Amazonas, e menos o do Pará.

Roraima entrou recentemente na lista negra do desmatamento e, assim como o Pará, tenta amolecer suas leis ambientais. Tudo indica que o destino de nossos campos naturais, o Lavrado, é virar uma grande plantação de cana e grãos. Os planos de desenvolvimento são enormes, arriscados, com pouco zelo pelos mananciais e com mais investimento nos grandes produtores que nos pequenos.

Não existe propaganda melhor nos dias de hoje que ser um dos estados mais conservados da Amazônia e o que tem o maior percentual de áreas protegidas. O que falta é tirar proveito disso em benefício do povo. Temos florestas em bom estado, o Lavrado com os maiores campos da Amazônia, as montanhas, as águas limpas, a biodiversidade, as fronteiras, a tradição dos migrantes, a memória dos pioneiros e a cultura dos índios. Isso pode não apenas gerar empregos no turismo, mas também lançar um ‘verniz verde’ sobre tudo que o estado produz, abrir mercados e atrair outros tipos de investimento. Mas pra isso dar certo Roraima não pode, em hipótese nenhuma, ganhar a fama de destruidor das matas e dos campos.

Seguir o exemplo do Pará não vai trazer a torcida para o nosso lado. Eles tem muito pasto, soja, madeira e minério, mas nada disso impressionou os homens da Fifa nem melhorou a vida do povo de lá. A gente não pode ir pelo mesmo caminho. Se Roraima quiser bater um bolão na copa, tem até 2014 pra mudar de tática. Ainda é tempo de virar o jogo.

Assine nosso Feed ou receba os artigos por email.

Nenhum comentário: