25 de maio de 2010

Gato-maracajá simula chamadas de Sauim-de-coleira para atrair suas presas

Gato-maracajá (Leopardus wiedii), fonte - wikipedia

Mesmo se passarem anos no campo, os pesquisadores raramente testemunham a predação de primatas. Os gatos, aves e outros caçadores regularmente se alimentam de espécies de primatas, mas o que sabemos sobre os hábitos dos caçadores de primatas frequentemente vem a partir de ossos e unhas encontradas nas fezes do predador. De vez em quando, porém, alguém está no lugar certo e na hora certa para observar uma tentativa do predador de pegar um primata para o jantar e uma observação recente na Amazônia revelou uma técnica engenhosa de caça empregada por um pequeno gato malhado.

Embora seja conhecido pela ciência por quase 200 anos, o gato-maracajá (Leopardus wiedii) ainda é um dos mais enigmáticos gatos do mundo. Ele passa a maior parte de sua vida nas árvores das florestas tropicais da América Central e do Sul, e, como acontece com muitas espécies arbóreas, ela se tornou especialmente difícil de seguir e estudar. Conforme relatado por Ellen Wang, com base em 20 amostras fecais, sabemos que grande parte da sua dieta é composta de pequenos roedores, mas como os gatos efetivamente caçam estes animais no topo das árvores é amplamente desconhecido.

Para descobrir, os pesquisadores Fabiano de Oliveira
Calleia, Fabio Rohe e Marcelo Gordo entrevistaram pessoas que tinham vivido na floresta por toda a sua vida sobre como os gatos-maracajá caçam. Curiosamente, uma observação comum era que os gatos imitam as chamadas de suas presas para atraí-las. Pumas, leopardos e onças-pintadas têm sido observadas utilizando essas técnicas e em 2005 os pesquisadores foram capazes de confirmar os relatos.

Ao fazer observações de campo na Reserva Florestal Adolpho Ducke, os pesquisadores avistaram um grupo de oito sauins-de-coleira (Saguinus bicolor), que havia se estabelecido em uma figueira para se alimentar. Havia um gato-maracajá por perto, mas ao invés de investir contra o grupo de primatas, o gato fez chamadas imitando os filhotes de sauim. O macaco que estava de vigia não sabia o que fazer diante dessa situação. Ela subia e descia da árvore, numa tentativa de descobrir o que estava acontecendo, fazendo chamadas para alertar os outros sauins que algo suspeito se passava. Depois de alguns minutos, as chamadas estranhas pararam, mas cerca de dez minutos depois, os quatro macacos
restantes foram para longe deste ponto de alimentação. O gato-maracajá foi vindo em direção a eles através de uma liana ligada à árvore de alimentação, mas já não havia chance de ele pegar um dos macacos.

Mesmo
tendo falhado a tentativa de predação, os pesquisadores sugeriram que a imitação pode ser uma estratégia eficaz dos gatos para a caça. Imitando as chamadas de sauins eles podem chamar indivíduos para perto em uma posição melhor para o ataque. Sabendo que um número de presas usam vocalizações imitáveis para demarcar território, um macaco ou outra presa que pensa que está vindo para afastar um concorrente, pode, ao invés disso, ficar cara a cara com um gato-maracajá.

Veja o artigo na íntegra :: de Oliveira Calleia, F., Rohe, F., & Gordo, M. (2009). Hunting Strategy of the Margay to Attract the Wild Pied Tamarin. Neotropical Primates, 16(1):32-34 DOI: 10.1896/044.016.0107

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Tradução livre do post :: Margays mimick monkey calls to lure their prey (Brian Switek) :: Laelaps - Science blogs (http://scienceblogs.com).


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Um comentário:

Holder disse...

jÁ observei gatos domésticos usando a mesma técnica com micos-estrela. Abraços