23 de agosto de 2009

Projeto Jaguar: uso de hábitat e estrutura genética da onça-pintada

Por Cláudia Keller e Denise Prado

O Projeto Jaguar é uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, a Estación Biológica Doñana - EBD, da Espanha e a Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM, com o objetivo de comparar o uso de hábitat e a estrutura genética de populações de onça-pintada, Panthera onca, no centro (Amazônia) e no limite setentrional (México) de sua área de distribuição. O projeto, que tem duração de 2006 a 2009, é financiado pela Fundación BBVA, da Espanha, dentro de um edital anual para projetos de conservação da biodiversidade entre instituições espanholas e da América Latina.

Globalmente a onça-pintada é classificada como “quase ameaçada” (nearly threatened) pela lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN. Atualmente a espécie ainda ocorre em 46% de sua área de distribuição original, que se estendia desde a Argentina até o sudeste dos Estados Unidos. A caça predatória e a alteração do habitat são as principais causas da redução populacional da espécie.

A Amazônia brasileira corresponde à maior extensão de floresta tropical primária contínua ainda existente no planeta e é a única região onde onças-pintadas, que podem chegar a ter áreas de vida de mais de 200 km², ainda são amplamente distribuídas, localmente abundantes e com estrutura e dinâmica populacionais não, ou apenas minimamente, impactadas pelo homem. Regionalmente, a espécie é considerada não ameaçada na Amazônia.

Já no México, a alta densidade populacional humana e intensa fragmentação do habitat reduziram drasticamente as populações de onça-pintada. A espécie é considerada ameaçada de extinção em nível nacional, restando apenas pequenas populações locais com baixo potencial de crescimento, dispersão e viabilidade genética.

Armadilhas fotográficas geram muitas informações sobre ocorrência, horário de atividade e identidade de indivíduos de Panthera onca

A onça-pintada é o maior felídeo das Américas, com comprimento médio do corpo de 133 cm e peso médio de 61 kg. No entanto, e apesar de seu grande porte, é difícil de estudar, especialmente em ambientes florestais tropicais como os amazônicos e meso-americanos. Isso se deve a que as onças são geralmente solitárias, de habitos predominantemente noturnos e muito esquivas em relação à presença humana. Por essa razão, e também devido ao alto custo e dificuldades logísticas associadas à captura e monitoramento de indivíduos de onça, o projeto está baseado em métodos de amostragem não invasivos. Os principais métodos empregados em ambos países são a amostragem por pegadas, a amostragem visual e auditiva de espécies-presa, e a coleta de excrementos de onças para análise molecular.

O registro das pegadas fornece informações sobre a identidade e ocorrência da espécie a baixo custo

No México, além dos métodos listados, também houve captura de indivíduos para marcação e monitoramento por radio-satélite, porque é importante conhecer a área de vida e a dinâmica de uso do espaço das onças que habitam unidades de conservação neste país, para melhor planejamento de estratégias de manejo da espécie.

No Brasil, as amostragens foram realizadas em quatro unidades amostrais padronizadas de 25km2 do
Programa de Pesquisa em Biodiversidade – PPBio, localizadas na Reserva Ducke (Manaus – AM), Reserva Biológica do Uatumã (Presidente Figueiredo – AM), Parque Nacional do Viruá (Caracaraí – RR) e Estação Ecológica do Maracá (Alto Alegre – RR), distribuídas em uma área de aproximadamente 300 x 1200 km de extensão entre a margem norte do Rio Amazonas, na altura de Manaus, e a fronteira entre Roraima e a Venezuela. As unidades amostrais são representativas de diferentes tipos de habitat amazônico, desde floresta tropical úmida de terra firme, até transição entre campinarana e savana, passando por um mosaico de floresta e campinarana sazonalmente inundada.

Em função da parceria com o PPBio, um dos objetivos do projeto no Brasil é o de colaborar para o desenvolvimento de um protocolo para amostragem de grandes felinos e suas presas em sítios de amostragem PELD e RAPELD, que formam a infraestrutura de amostragem do PPBio.

As amostragens no Brasil foram realizadas na época seca de 2007/2008 e 2008/2009 no Amazonas e Roraima. Os dados de amostragem de pegadas e de registro de espécies-presa estão sendo analisados. A análise genética dos excrementos está sendo realizada no Laboratório de Ecologia Molecular da EBD, que tem extensa experiência no uso e aprimoramento de técnicas de isolamento e análise de DNA degradado, como o que ocorre em fezes. Os objetivos são os de aperfeiçoar marcadores diagnósticos para as espécies de felinos silvestre da Amazônia central, além do uso de microsatélites para identificação individual.

Os resultados preliminares indicam que os métodos utilizados são adequados para a amostragem de onças-pintadas, onças-pardas e jaguatiricas, que parecem usar as trilhas das unidades amostrais para seus deslocamentos habituais. As amostragens de pegadas são eficientes para estudos de detecção de presença das espécies. Para estudos de monitoramento populacional, no entanto, o mais promissor dos métodos testados parece ser o da análise molecular de excrementos, pois as coletas são logisticamente mais simples que as amostragens de pegadas e podem ser feitas por membros de outras equipes que estejam trabalhando nas áreas de amostragem. Além disso, a análise do DNA contido nos excrementos é muito mais informativa do que a de pegadas.

Abaixo segue um vídeo do Jornal Hoje da Rede Globo que abordou algumas atividades em campo da equipe do Projeto Jaguar no Parque Nacional do Viruá.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Estou achando as onças de vocês muito pequenas: 133 cm de comprimento e 61 kg de peso...