29 de janeiro de 2009

O Ocidente não deve impor a sua visão do mundo para outras culturas

Por Miguel Ángel Villena [El País, 29/01/09]

Philippe Descola tem esse ar inconfundível dos exploradores de boa vontade que vem para investigar sociedades primitivas, com um espírito de aprendizagem de outras culturas, sem o traje da superioridade. Nascido em Paris em 1949, discípulo do famoso Claude Lévi-Strauss e um dos melhores antropólogos culturais no mundo, vem de uma família hispânica em que seu avô lhe ensinou algo tão fundamental para a vida, como os nomes das flores e das estrelas. Fruto de seu conhecimento em espanhol e do seu amor pela natureza, o jovem antropólogo Descola rumou com apenas 25 anos para a Amazônia equatoriana para estudar uma sociedade de Jivaros que mal havia tido contato com o mundo exterior.

"Conheci uma sociedade muito primitiva", lembra Descola no Instituto Francês de Madri, onde deu uma palestra esta semana. "Só um rapaz falava algumas palavras em espanhol", prosegue, "depois de alguns meses eu aprendi alguma coisa da língua nativa e comecei a perceber que em sua maneira de ver as coisas não há separação entre cultura e natureza. Na verdade, elas não fazem a distinção entre humanos e não humanos porque as plantas e os animais também têm o que poderia ser entendido como alma. Por exemplo, muitos povos amazônicos não tratam as plantas com fins utilitaristas de cultivo ou produção, mas sim as mulheres têm um relacionamento de mãe e filha com as árvores ou as flores, enquanto os homens se relacionam com os animais como se fossem parte da família." Segundo o antropólogo, todas as cosmologias, desde as que abarcam tribos em matas isoladas até as que observamos nas sociedades da China ou da Índia na atualidade, integram cultura e natureza. Todas, exceto o Ocidente. Descola, um verdadeiro especialista sobre este tema sobre o qual publicou vários livros, argumenta que a revolução científica do século XVII na Europa significava o surgimento de invenções como o microscópio ou o telescópio, permitindo que a natureza se transformara em algo autônomo e observável. "Desde então", diz com seu tom didático, "nossa cosmologia tem servido como modelo para compreender as cosmologias de outros povos. No entanto, a nossa não pode ser uma cosmologia padrão e o Ocidente não deve impor a sua visão de mundo a outras culturas."

Sem qualquer exibição de catastrofismo, mas com a firmeza de um cientista, Descola prevê que o planeta está a caminhar para um desastre se não se respeitar a natureza. "Temos que parar com esta louca corrida de atentados contra o ambiente", diz o autor do livro Más allá de la naturaleza y la cultura (Gallimard, 2005), que será publicado em breve na Espanha. Na sua opinião, a consciência ambiental que se desenvolveu nas últimas décadas tem contribuído, sem dúvida, a ressaltar preocupações com questões como a biodiversidade ou o aquecimento global. "No entanto, antropólogo francês qualifica, "a nossa maneira ocidental de conceber a natureza como algo além da sociedade e da cultura continua prevalecendo na mente da maioria das pessoas."

Para Philippe Descola, "temos que defender a diversidade biológica e a diversidade cultural, porque, em última análise, são o mesmo." "Para viver em um mundo onde valha a pena viver", diz ele, "devemos nos surpreender por uma grande diversidade de respostas a vários desafios. Essa aspiração de se deixar surpreender é o que dá sabor à vida e que serve como um antídoto para a uniformidade e a rotina". Quando consultado sobre o que aprendeu com os índios da Amazônia, Descola não hesita: "Que cada dia amanhece para eles com total virgindade".

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Um comentário:

Anônimo disse...

Amigo, te sugiro que leias os textos antes de escrever resenhas. Pode ser algo bem instrutivo no final.