12 de fevereiro de 2009

Entrevista com Dilma Rousseff sobre as hidrelétricas na Amazônia

Dilma Rousseff é a provável candidata à presidência da República pelo PT em 2010. Atual ministra-chefe da Casa Civil e ex-ministra de Minas e Energia, ela exerce grande influência sobre os caminhos que o governo tem tomado em relação ao meio ambiente. Idealizadora do PAC, a ministra foi a entrevistada do programa Jogo do Poder do jornalista Alon Feuerwerker em 11/02/09

Questionada sobre o potencial hidrelétrico da Amazônia e os custos ambientais das usinas, Dilma defendeu a instalação das hidrelétricas e enfatizou a vantagem estratégica que elas podem trazer ao país. Segundo a ministra, o Brasil tem um baixo aproveitamento do potencial hidrelétrico, sustentando a necessidade de gerar soluções emergentes para evitar excessos do passado (como a UHE Balbina) e do presente (dificuldade para licenciar as obras).

Apesar do benefício das hidrelétricas em comparação com as termoelétricas, o discurso de Dilma Rousseff é bastante enviesado, pois menospreza e pontualiza os impactos ambientais da instalação das usinas nos rios da Amazônia.

Qual sua opinião sobre o posicionamento de Dilma Rousseff?

O que podemos fazer para alimentar o debate de forma construtiva, considerando que o desenvolvimento do país é necessário e inevitável?




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8 comentários:

PedroIvo disse...

Fico triste por não constatar nenhuma mudança nesse discurso desde que eu nasci. "Ambientalmente não emissora de CO2 e que não interfere com a questão do clima"? Certo. Vamos tomar isto como uma verdade imaculada, ou um dogma, que seja. Mas há de se admitir que ela não tenha lido muito recentemente, na melhor das hipóteses, ou lido e insistido em omitir informações, na pior.

"Não se estoca o vento". Certo também. Ainda mais na Amazônia. Talvez pela mesma razão a energia solar tenha sido subtraída do texto como fonte de geração de energia. Vai que um dia o Sol empalidece e apaga. Tudo bem que a tecnologia é caríssima, mas quem dera houvesse subsídios e oportunidades para o desenvolvimento de novas tecnologias neste campo como há para a adaptação e modernização de nossos velhos (e doravante dogmáticos) geradores.

Também acho ser perfeitamente possível que uma hidrelétrica na Amazônia tenha o impacto de uma plataforma marítima brasileira. Uma vez que a sacrossanta empresa responsável pela manutenção dessas estruturas respondeu por anos ao apelido carinhoso de "Emporcalhobrás", qualquer tipo de catástrofe ambiental está amparada pelo argumento.

Mas a verdade nua e crua é que precisamos de energia. E a população precisa de emprego. Em Porto Velho, bispos católicos e protestantes urgem à população toda a manhã: que orem em agradecimento ao milagre das hidrelétricas, que os trará salário e desenvolvimento. Vivemos em uma democracia cristã, e não há oposição legítima quando a maioria esmagadora da população, e até os céus, estão a favor.

Mas esta mesma democracia goza de uma das legislações ambientais mais modernas e rígidas do (terceiro) mundo. O sacrilégio cometido por Dilma e por nossos representantes, seja lá em que instância, é desejar que obras como as hidrelétricas na Amazônia sejam construídas sob um regime de excessão, desviando aqui e ali de nossa legislação, e calando qualquer parecer legítimo e contrário de forma rápida e silenciosa. O Plano de Aceleração do Crescimento, necessário sim, se tornou uma força contra a qual nem mesmo órgãos governamentais federais conseguiriam se opor.

Isso dá às empreiteiras confiança suficiente para realizar as obras de forma bem rápida. Tão rápida, que a morte de toneladas de peixes nos sítios de escavação da UHE de Santo Antônio passou quase despercebida, e a dinamitação e abertura de canais se iniciou sem sequer uma visita de profissionais qualificados para estudos de impacto sobre a fauna e flora terrestres. Um programa de monitoramento super eficiente e atual, aos moldes do PPBio e o que este tem de melhor, foi anunciado e parece ter agradado a vários pesquisadores Brasil afora. Mas como monitorar sem saber ao certo o que havia antes dos tratores e da dinamite?

Em um rompante de irônico fervor, como os fanáticos televisivos que ouvem o apocalipse em canções ao contrário, noto na sigla do programa lida de trás para frente, as três letras iniciais da alcunha daquele que vive entre nuvens de enxofre, e estremeço.

Anônimo disse...

"Nunca me esquecerei do dia em que o presidente Lula assumiu a presidência de nosso país e os jornais do mundo inteiro traziam a seguinte manchete: "O Brazil dá um show de democracia...". Atualmente sua popularidade é gigantesca. Na última pesquisa que li, 85% (!!!) dos entrevistados aprovam seu governo. Pela tendência, a ministra da casa civil que, certamente, será a candidata do PT tendo o apoio do atual presidente e com os seus 85% (considerando verdadeiros estes dados), tem uma grande possibilidade de assumir a presidência.
Bom.... o que quero dizer com isso? - Nestes próximos anos o PAC entrará de cabeça numa das últimas, se não a última areas de fronteira do mundo.
Caso algum tecnocrata ler este texto, prontamente me reprendereia, argumentando a questão estratégica e de infra-estrutura que estas obras tem para a população e para o país.
Não nego esta necessidade.
Contudo, de que forma faremos isto é a questão chave.
Qual o motivo para a construção de tal hidrelétrica? em minha difusa consciência, penso que possuímos tal tecnologia, matéria prima, bla,bla,bla... Mas provavelmente o motivo mais forte seja de que temos um grupo corporativo extremamente interessado nesta obra, e que tem uma grande influência em Brasília.
É realmente uma pena um país que dá um show em democracia não poder dar sua opinião no momento em que o Brazil vai desbravar sua fronteira!!!
É obvio que todo e qualquer empreendimento estratégico terá seus efeitos na biologia da degradação, e a pergunta que faço é: Porque a população não pode opinar sobre isso!???
Plebicitos poderiam ser úteis nestes momentos. Poderiam ser apresentados os tipos de empreendimentos, os prós e contras entre outras coisas...
Muita gente ao ler isso pode se contorcer na frente do computador, e dizer: "- o povo é burro, não sabe votar!!!"
Talvez estejamos com uma venda nos olhos, pois acreditamos que nosso voto não vale de nada, pois político é tudo igual, agente elege os caras e eles fazem o que querem.
Agente poderia votar sobre o aumento de seus salários !?!?!?! não seria lindo?????
Isso sim ... seria um show de democracia!!!!!

Enquanto isso o governo vai fazendo gambiarra com nossa legislação ambiental e nós vamos nos contorcendo em frente ao computador!!!!

Abc a todos

Ricardo"

Saci disse...

Segue link para artigo de Roberto Smeraldi. Enviado pelo Mindu.

http://www.amazonia.org.br/opiniao/artigo_detail.cfm?id=300486

Luiz Bento disse...

Acho realmente que a Dilma se enrolou principalmente quando disse que é uma energia completamente limpa e que pode ser explorada com impactos apenas pontuais. Sabemos que os reservatórios estão longe disso, mas não vamos encara-los como demônios (como o Fearnside gosta de fazer).

Mesmo exagerando nestes pontos, acho a ideia dela muito importante. Discutir sobre os impactos e os benefícios é mais do que necessário e ela frisa muito isso. Cada vez mais vemos projetos de usinas que usam uma menor área alagada e tem melhor eficiencia energética, etc. Usar Balbina como se fosse o exemplo do que temos como hidrelétrica é uma piada.

Quanto a energia solar, os principais jornais internacionais mostraram este mês que várias empresas ligadas a este meio estão quebrando. Países como a china que investiam muito nesta área estão revisando seus contratos. A tecnologia ainda precisa ser muito melhorada (não só o preço) e além disso não é porque somos um país tropical que temos uma fonte para energia solar inesgotável. Energias eólica e solar precisam ser pontuais e utilizadas como complemento. Não podem ser a fonte principal de energia. Sendo assim, voltamos para as hidreletricas... ou para a idade da pedra! :)

Anônimo disse...

Discordo do finalzinho do post, o "desenvolvimento" como vem sendo feito não é nem necessário nem desejável. A Globo é a primeira a confundir o telespectador dizendo ora "desenvolvimento sustentado", ora "desenvolvimento sustentável" - sendo que o primeiro significa manter X% de crescimento ao ano "para sempre", e o segundo seria parar de crescer uma hora. Mas quando vamos parar de crescer?

No livro Economics in One Lesson, um economista famoso já ensinava que construir obras caras apenas para gerar emprego é a maior mentira que existe. Deixem de cobrar os impostos equivalentes, e o próprio povo vai gastar esse dinheiro em outro lugar, gerando o mesmo número de empregos.

Não precisamos de mais energia. Um estudo da WWF publicado alguns anos atrás numa revista da USP mostrava que podíamos economizar 50% (e isso já geraria inúmeros empregos). As construções no clima tropical podiam seguir a arquitetura indígena, as pessoas podiam tentar emagrecer ao invés de ligar o ar-condicionado no máximo, e assim por diante.

O projeto todo está errado desde o início, e deveríamos atacar a raiz dos problemas (mas muita gente chama isso de discutir o sexo dos anjos). Enquanto isso tome-lhe solução paliativa, e bau-bau natureza.

Rodrigo.

Unknown disse...

É triste as meia-verdades (e mentiras também) que se constituem a"política energética" do país. "Hidrelétricas não emitem gáses de efeito estufa" - FALSO, Sra Presidente - estudos científicos mostram altas emissões de metano, gas potente de efeito estufa. "aprendemos das barbaridades que foram feitas contra o meio ambiente" - FALSO, Sra. Presidente. O Plano 2030 é para construção de 70 a 90 novas hidrelétricas na Amazônia. O Plano de longo prazo, segundo o MME, é de construir 180 Gigawatts de hidrelétricas, e depois ver COMO construir mais ainda em terras indígenas e unidades de conservação (sendo que na próxima década, já há projetos que atingem estas áreas protegidas. Energia mais barata? As hidrelétricas estão sendo subsidiadas pesadamente com dinheiro público, através do BNDES. Maior eficiência energética??? Energia solar e da biomassa??? Não nós interessa, porque o dinheiro está rolando através da construção de bilhões de dólares de barragens. Brasil poderia ser um líder em energias renováveis, mas insiste em garantir os lucros das empresas que lidem com energias ultrapassadas.

Vazquez disse...

Os posts são unânimes na questão da emissão de gases de efeito estufa: as hidroelétricas o fazem sim. Há mais uma unanimidade (esta pelos que a citaram): risco ao estado de direito. Há sim uma questão a resolver, que passa pela mudança de modus vivendi de nossa sociedade. O mais lamentável é a ausência de uma discussão mais ampla desse processo de ocupação da Amazônia, o enfiar goela abaixo um modelo com base em tecnologia de alto consumo energético, a ausência de setores estratégicos e, pior de tudo, a total desconversa - leia-se "falta de noção" - entre os diversos setores representados no governo, com os setores produtivos, acumuladores de recursos, mantenedores de padrões insustentáveis de consumo tomando a frente de tudo, baixo o discurso de que não há alternativa.
A primeira alternativa é mudar o padrão de transporte de massas no Brasil, tanto nas grandes como nas pequenas cidades. O transporte coletivo e o deslocamento pedestrial deveriam ser a prioridade de qualquer plano de redução de consumo de energia. Considere-se aí o reflexo na menor produção de automóveis individuais. Mas bem se vê, em meio à crise financeira, causada pelo excesso de crédito, garantir o crédito para garantir o consumo elevado de energia.
O problema é ambiental sim, mas de forma secundária. O problema primário é no modelo de vida diária que levamos.

JMKreusch disse...

A política do Presidente Lula em relação à Amazônia mostra-se inteiramente equivocada e interesseira. No estado do Acre, o governo federal paga (cerca de R$1500,00 por gravidez) para que a população aumente. No entanto, socialmente, estas pessoas são esquecidas e vivem em condições lastimáveis. Se o Brasil deseja reiterar seu direito sobre o território nacional frente às outras nações, tudo bem, mas que não seja de forma irresponsável, ocupando desordenamente o território amazônico, semeando sua colonização às custas de mais pobreza e miséria. O governo deveria estar investindo em ciência. Certamente a Amazônia tem muito a oferecer para o Brasil e para o mundo. Infelizmente, ela (a Amazônia) é para o governo brasileiro como um brinquedo caro nas mãos de uma criança, o qual, invariavelmente, se não for muito resistente, acaba quebrado. Precisamos de novos políticos, prontos para atenderem às necessidades do novo milênio. Os políticos do ultimo milênio devem nele permanecer, pois não são aptos à mudança de paradigma que se agiganta. As desisões precisam deixar de ser exclusivamente políticas e eleitoreiras e dar ouvidos às necessidades emergentes da nova situação ambiental. Há várias décadas cientistas de todo o mundo alertam para o fato de estarmos quebrando a homeostasia planetária. Não foram ouvidos no passado, e continuam sendo ignorados. A energia é importante, sem sombra de dúvidas, mas lançar-se em uma busca frenética e irresponsável, não se mostra em nada racional. O Brasil precisa investir em ciência. Decisôes que envolvam o meio-ambiente devem ser estudas em conjunto, por pessoas capacitadas e não por meros políticos,levando em consideração todos os aspectos relevantes, quer sejam sociais, ambientais, tecnológicos, e não exclusivamente politico.