O que a Espanha tem? Além das touradas e do clássico “Barça e Real” a terra de Cervantes também produz Ecologia de primeira linha. O professor Miguel Ángel Rodríguez do Departamento de Ecologia da Universidade de Alcalá esteve no Brasil realizando uma série de trabalhos no Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese – LETS da Universidade Federal de Goiás, onde gentilmente concedeu esta entrevista ao doutorando do NUPELIA (UEM- Maringá), Dilermando Pereira Lima Júnior. De forma muito descontraída, porém profunda, Miguel Rodríguez contou sobre sua formação, suas principais linhas de pesquisa, apontou tendências na Ecologia no século 21, terminando a entrevista com dicas para jovens ecólogos. Confira.
Quando começou a se interessar por Macroecologia? Meu interesse por Macroecologia surgiu durante a tese de doutorado. Sempre me chamou a atenção a existência de muitos dados acumulados sobre o assunto e como trabalhava com vegetação, me interessava os dados fitossociológicos levantados pelos botânicos. Quando estava terminando meu doutorado, pensei que das meta-análises de muitos trabalhos poderiam surgir padrões interessantes. Daí fui fazer meu segundo doutorado no Laboratório de Bradford Hawkins, onde já havia uma base de dados preparada com essas informações, mas o maior interesse com esses tipos de questões aumentou quando o Brad também começou a se interessar pelo campo da Biogeografia, se tornando meu principal campo de investigação nos últimos anos.
Você acredita realmente nos padrões Macroecológicos como importantes fatores atuantes na estruturação de comunidades locais? Uma vez que muitos artigos mostram uma baixa correlação entre a diversidade de variáveis de grandes escalas espaciais. Sim, eu acredito nos padrões. Quando observamos os mapas de riqueza em escalas continentais, creio que esses mapas refletem realidades biológicas. É certo que os mesmos são criticados por mostrarem uma distribuição de espécies que representam mais hipóteses de distribuição do que a distribuição real das espécies, porém estudos mostram que esses mapas são boas explicações da distribuição. Quando observamos os mapas de tamanho corporal das espécies e outros padrões macroecológicos, a mim parecem que esses mapas refletem realidades biológicas. Outra coisa são as análises que fazemos dos dados, que nos mostram correlações entre variáveis climáticas e históricas e nossas interpretações. Se as nossas interpretações são corretas ou não, isso está para ser visto. O fato é que algumas variáveis explicam grande parte da variância, de aspectos como riqueza de espécies em escalas continentais e globais. Podemos encontrar variáveis como evapotranspiração que descreve mais de 70 % de variação da riqueza de espécies de diferentes grupos taxonômicos. Porém, se essa variação é uma resposta biológica dos organismos à quantidade de energia e água, ou se são meras covariações, que escondem outros mecanismos por trás destes padrões, são questões ainda por responder. Na verdade é a grande pergunta. Encontramos correlações com variáveis ambientais, mas correlações não implicam em um mecanismo causal.
Sabemos que nosso planeta hoje se encontra numa crise ambiental, com enormes prejuízos à diversidade biológica. Em se tratando de conservação você acha que a Macroecologia pode contribuir com a Biologia da Conservação ou são áreas distintas de pesquisa? Sim. Por um lado o estudo da biogeografia nos ajuda a identificar pontos no globo com grande riqueza de espécies (os hotspots de biodiversidade), com grande número de espécies endêmicas e/ou espécies raras. Claro que tudo isso é uma informação útil para a biologia da conservação. Por outro lado, a macroecologia pode evidenciar como e quais os mecanismos que estão afetando a distribuição das espécies em grandes escalas, por exemplo, avaliando o impacto humano nestas escalas. Nos últimos duzentos anos temos modificado o planeta como nunca antes na história. Isto sem dúvida tem afetado os padrões biogeográficos, portanto, estudos que estão focados em estabelecer até que ponto o impacto humano influencia os gradientes de riqueza de espécies podem ser muito importantes para medidas de conservação.
Quais são os motivos que lhe trazem ao Brasil? O principal motivo é que por aqui há um grupo de pesquisadores como José Alexandre Diniz Filho, Luis Maurício Bini e Paulo De Marco Junior excepcionalmente bom no campo da Macroecologia, com uma capacidade de análise que chama atenção e é reconhecido por pesquisadores da área em todo o mundo. Vir ao Brasil, para mim é uma oportunidade para aprender e fazer análises mais refinadas. E não digo isso por estar no Brasil…
Qual é a sua dica para jovens ecólogos e pós-graduandos que estão se formando agora e ainda têm poucos artigos publicados? Diria duas coisas… Primeiro publique tudo que podem. Nessa primeira fase de formação de mestrado e doutorado o pesquisador tem que estar ciente que está aprendendo. É importante fazer bons trabalhos, acabá-los e continuar trabalhando. Se você está investigando perguntas importantes, ótimo, mas o mais importante nessa fase é aprender. Dessa forma, fazer trabalhos mais clássicos (ou “conservadores”) e publicá-los é importante. Com avançar da carreira creio que tem que haver uma tendência em prezar a qualidade. É normal que no inicio da carreira o estudante publique muito, mas com maturidade diminua o número de publicações e invista em artigos melhores, mais bem acabados e de maior calibre científico. Com o tempo não importa tanto o número de artigos, mas as questões que se investiga. Resumindo: durante o mestrado e doutorado tente publicar muito em boas revistas internacionais e mais adiante se livrar da obsessão de número artigos e se concentre em idéias importantes para publicar em revistas de ponta.
2 comentários:
Diferienciação:
Ecólogo é o profissional que fez um bacharelado em Ecologia, a ciência que estuda o relacionamento dos seres vivos entre eles e o ambiente
ecologista é um termo que praticamente se funde com o de ambientalista, e ambos representam pessoas com opiniões político-sociais voltadas à defesa do meio ambiente
http://recicleblog.blogspot.com/2008/10/eclogo-ecologista-ou-ambientalista.html
Acredito que você tenha utilizado a palavra ecólogo de forma errônea, seria viável a substituição por ecologista
Um abraço
Obrigado pelo esclarecimento Rafaela. O blog tem um perfil heterogêneo, é alimentado por muitos autores, mas as pessoas que escrevem nele são na maioria ecólogas, em geral graduadas em biologia ou ecologia, que passaram ou estão pela Coordenação de Pesquisas em Ecologia do Inpa. Alguns estão no mestrado, outros no doutorado, mas são todos ecólogos. Isso não impede que eles também possam ter opiniões políticas e agir como cidadãos. Por isso acho que o uso do termo ecólogo não foi usado de forma errônea.
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